Estrela: “Queríamos que a cidade prestigiasse o sacrifício que fazemos”

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Foto: Leandro Moreira

Ir ao Mário Monteiro, gritar olé, xingar, reclamar e gritar gol custa a cada torcedor, em geral, os R$ 20 do ingresso, comprado na hora, e mais alguns trocados no bar – para não ficar de ‘bico seco’. Agora, o que pouca gente sabe é que, para a diretoria do Estrela do Norte, cada partida realizada em ‘casa’ – na média das despesas gerais – custa ao clube cerca de R$ 50 mil.

Até aí, tudo bem. O que causa a maior surpresa é que em todos os jogos realizados no Sumaré neste campeonato estadual geraram, na soma de bilheteria e bar, receita inferior a R$ 20 mil líquido.

Alguém pode dizer: “há os patrocínios”. Tem cinco no uniforme, renda: R$ 120 mil, divididos por quatro (janeiro, fevereiro, março e abril). Quanto às placas de publicidade, apenas 15 resultam em verba – as outras são permutas -, renda: R$ 45 mil, também divididos por quatro.

Tendo o Estrela despesa mensal de R$ 100 mil, está claro que a conta não fecha. O diretor financeiro do alvinegro cachoeirense, o empresário Bruno Mazzoco, explica, em entrevista exclusiva ao Em Off Notícias, o ‘milagre’ que é feito para garantir, não apenas, a folha de pagamento, mas, principalmente, a alegria esportiva do município. Ah, e claro, também relata as vantagens que as empresas podem ter ao associar a sua marca ao clube.

 

– A cidade, há alguns anos, perdeu o estádio do Cachoeiro Futebol Clube. Agora, profissionalmente, só temos o Estrela do Norte. Como é para manter o clube? Há apoio?

Bruno Mazzoco – Infelizmente, no decorrer destes 103 anos de existência, o Estrela sempre foi uma entidade controversa – isso, por conta da longevidade, é natural que passe por bons e maus momentos. As dificuldades que temos hoje, dentro do cenário econômico financeiro, é reflexo de um passado, de 15, 20 anos, que comprometeu seriamente a estrutura financeira do clube: ações trabalhistas, tributos federais, encargos, que não foram honrados por alguns presidentes. Não é uma crítica, porque não é fácil ‘dirigir’ o Estrela, mas há um passivo que compromete.

Há bloqueios parciais de bilheteria; 100% de bloqueio de receitas provenientes do aluguel do Pronto Atendimento do Hospital Infantil – única verba fixa que tínhamos. Isso, atinge muito o desempenho de um clube que está disputando a 1ª divisão do campeonato estadual.

 

– E qual é o planejamento para driblar essas dificuldades?

Fizemos investimento em 2018 para sair da 2ª e ir para a 1ª divisão da competição, naquela época contávamos com patrocinadores; então, seria contrassenso ficar sem disputar o campeonato neste ano – tendo em vista, todas as dificuldades enfrentadas. Foi feito planejamento estratégico, buscamos patrocinadores, fechamos alguns contratos e contávamos com a receita – mesmo que parcial – do aluguel para o Hifa. Apostamos também na venda antecipada de carnês para as partidas disputadas no Sumaré, disponibilizamos 500.

Infelizmente, no início da pré-temporada, tivemos a surpresa de mandado judicial sobre o bloqueio de 100% da receita do aluguel para o Hospital Infantil. Com isso, quase que 1/3 do nosso planejamento financeiro foi comprometido e estamos em situação de dificuldade.

Com sacrifício da diretoria, de colaboradores do clube, iniciamos as atividades no dia 15 de dezembro de 2018, em Marataízes. Hoje (quarta – 3), afirmo que estamos absolutamente em dia com todos os compromissos. Temos duas faturas para pagar, de valor pequeno, com vencimentos futuros. E a folha de pagamento de março, que será saldada no dia 10 de abril.

Só que o recurso acabou. Você vai adequando o fluxo financeiro, antecipando receitas, criando alternativas para manter a estrutura em funcionamento… porém, chega o momento que, quando você planeja orçamento de R$ 350 mil para um campeonato e perde R$ 100 mil durante o caminho, vai faltar esse recurso.

Garanto que os compromissos assumidos pela diretoria e por mim, que sou o gestor financeiro, administrativo e de marketing do clube, serão cumpridos. Porque, temos uma história de vida e também dentro do Estrela. Sempre honramos, mesmo que com recursos pessoais – agora, não será diferente.

 

– O senhor vê com justiça a necessidade de utilizar recursos pessoais para saldar as despesas do clube?

Acho justo? Não. O Estrela do Norte não é do Bruno Mazzoco, não é do Geraldo Altoé, do dr. Ewerton Treggia, não foi do Adilson Conti, do Sandro Sartório, Toninho Carlos, nem dos outros presidentes. O Estrela é de Cachoeiro de Itapemirim, uma cidade de 230 mil habitantes, que tem um clube de 103 anos de existência, e que não vejo com justiça poucas pessoas se envolverem nas atividades ao ponto de retirarem recursos próprios para manter entidade que não é pessoal e sim, da cidade.

Uso muito o exemplo das cidades do interior de Minas Gerais, São Paulo. No sul do Brasil, tem o Chapecoense, que é um dos clubes que tenho a maior admiração por sua história e engajamento da cidade, das empresas dentro do projeto que, em menos de cinco anos, saiu da série D, foi para a ‘A’ do Campeonato Brasileiro e chegou ao título da Sul Americana. A cidade tem 230 mil habitantes, com o mesmo potencial econômico que Cachoeiro – se eles conseguem, por que, a gente não?

 

– Uma empresa, antes de investir, quer saber o retorno que terá. Quais as vantagens que um empresário cachoeirense vai ter ao fechar patrocínio de publicidade com o Estrela?

O público médio do Estrela no campeonato deste ano, por incrível que pareça, foi o segundo maior – o primeiro é o Rio Branco. Estimamos cerca de 1,5 mil torcedores no estádio. Obviamente, agora, com a semifinal e a possível final – o Estrela tem todas as condições de disputar o título – poderemos aumentar essa média para até 1,8 mil. Há a venda de camisas, com as logomarcas dos patrocinadores, que circulam pela cidade – quantidade que pode chegar a até 1 mil camisas.

Tem as mídias sociais que vêm maciçamente divulgando nossas atividades. As rádios, a Tv Bandeirantes, que faz as transmissões ao vivo via internet. Esta é a visibilidade que o Estrela pode oferecer. Particularmente, vejo o futebol como um grande negócio. Se bem trabalhado no ponto de vista estrutural, com engajamento da sociedade como um todo (Federação, clubes, poder público e privado), o futebol se torna um grande negócio para o Espírito Santo.

O nosso futebol só não é forte também por questão cultural: a população sempre prestigiou o futebol de outros estados. Cultura se muda a partir das gerações. O presidente da federação, Gustavo Oliveira Vieira, tem feito um belo trabalho, apesar das dificuldades. Tem que ‘alimentar’ hoje uma camada da sociedade, que são as crianças e adolescentes; investir no futebol – com marketing –, ter a criatividade para gerar a vontade nas pessoas de ir ao estádio. Para que, daqui a 10 ou 20 anos, você possa ter uma faixa etária de torcedores engajada com o futebol capixaba. A federação tem certa responsabilidade nisso; mas, sem o apoio do governo estadual, municipal, empresariado e da sociedade vai ser muito difícil mudar o cenário.

 

Foto: Henrique Montovanelli

– A receita da bilheteria tem peso considerável para o caixa do clube. Estamos próximos de um jogo, que traz boa expectativa de público no campo do Sumaré. Gostaria que falasse desta receita que está atrelada à importância do torcedor.

Falo de coração aberto. Fazemos futebol por amor. Tenho minha vida pessoal, uma pequena empresa, meus negócios, minhas atividades econômicas… mas, sempre gostei de futebol; com cinco anos de idade eu já frequentava o Sumaré.  Então, cria-se afinidade, amor. Sobre a receita da bilheteria é importante ressaltar que há bloqueio de 30% no valor líquido das arrecadações.

Quando há público bom no estádio, você aumenta esta verba. O bloqueio permanece, porém, da receita líquida, 70% vai ficar para o clube. Como fazemos futebol para a torcida, para a cidade e para as pessoas, o mínimo que queríamos de contrapartida de todos é que prestigiassem esse sacrifício que estamos fazendo.

Não adianta gastar R$ 50 mil por partida – se eu pegar o orçamento do campeonato e dividir pelo número de partidas feitas no Sumaré fica em torno deste valor – para ter 400, 500, 800 torcedores. Isso, gera renda de R$ 8 mil ou R$ 9 mil. Com o desconto judicial de 30%, fora as despesas do jogo, vai sobrar R$ 2 mil ou R$ 3 mil para o clube, que tem folha de pagamento de R$ 60 mil. A conta não fecha e me faz pensar se vale a pena toda esta luta. Ganhar ou perder faz parte do jogo; agora, quando passa a perder fora de campo, com a falta de prestígio e participação das pessoas – para as quais fazemos este trabalho – aí gera certa decepção.

A forma como Cachoeiro hoje (prefeitura, empresariado, comércio, indústria, torcedores etc) tem de valorizar e reconhecer o trabalho que estamos fazendo é ir ao estádio. É muito gostoso para mim chegar no Sumaré, independentemente do resultado, e ver lá 3 mil, 4 mil pessoas – crianças, mulheres, idosos festejando, comemorando, rindo. O futebol só vai cumprir a sua função no momento que fechar este elo entre clube, torcida e sociedade.

 

– Com este avanço do Estrela no campeonato, como o senhor está sentindo o clima entre os jogadores? Inclusive, com a possibilidade de ser campeão.

Foi um campeonato muito interessante. O Estrela fez pré-temporada de 45 dias antes da estreia contra o Castelo. Começou bem na competição, vencendo as duas primeiras partidas. Na terceira, mereceu ganhar contra o Real Noroeste (você sabe bem disso), mas houve alguns contratempos no jogo, os quais prefiro nem entrar no mérito. Depois, entrou em queda: perdemos três em ‘casa’; para o Vitória, fora.

Entendemos que o projeto ia ‘por água abaixo’ e, em comum acordo, fizemos mudanças que julgamos necessárias, nas quais inclui a troca de treinador (saiu Orlando da Hora). Trouxemos Dário Lourenço, que conquistou o primeiro campeonato estadual do Estrela em 2014; conseguimos contratar, na última semana de inscrição, quatro atletas. Neste trabalho, o time ressurgiu, ganhou os pontos necessários – deu mais consistência ao grupo. Futebol é dentro de campo; mas, hoje, coloco o Estrela em igualdade de condições com os outros três semifinalistas.

 

– Então, vale a pena a torcida comparecer em massa contra o Vitória, neste sábado (6), às 16h, no Mário Monteiro…

A hora é essa! O time está bem, o astral está bom. Os atletas estão muito empolgados. Foi muito bonita a partida contra o Rio Branco de Venda Nova. A demonstração de carinho da torcida para os atletas no final do jogo e a retribuição dos jogadores foi de arrepiar. A partida foi tensa, o Rio Branco é uma excelente equipe, uma das melhores do campeonato, na minha opinião. E fora de ‘casa’, toda uma pressão de quase 2 mil torcedores contra. E, naquele momento de desabafo, jogadores e torcida se abraçando no alambrado, alguns chorando, emocionados… aquilo trouxe outro clima, outra motivação e ambiência. Estamos confiantes na busca pelos resultados, vai chegar na final e fazer uma grande festa – quem sabe com o título, resgatando um pouco do carinho, do amor entre o Estrela e Cachoeiro.

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