O salário mínimo dos trabalhadores brasileiros poderá ter reajuste de 4,2%, passando dos atuais R$ 998 para R$ 1.040, caso a Lei de Diretrizes Orçamentárias, já aprovada pelo Congresso Nacional, seja sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O mísero acréscimo na remuneração dos cidadãos (ãs) de nossa nação, historicamente, simboliza o valor que o trabalhador tem para o país, que, em ampla escalada, empenha-se em pagar o mínimo e o piso.
Em casa, sem o uniforme da empresa ou do serviço público, o ser humano ‘do mínimo e/ou do piso’ tem que vencer as peripécias impostas pelo preço dos alimentos, da moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e Previdência Social.
Óbvio que, com o mínimo/piso, é preciso fazer revezamento ou abrir mão de alguns ‘direitos’ garantidos pela Constituição, porque o ordenado está longe de tal dimensão. O cálculo exato do valor necessário do salário mínimo para sustentar uma família com quatro pessoas no Brasil é realizado periodicamente pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômico (Dieese). A matemática é desoladora.
No mês de março deste 2019, na estimativa citada acima, o mínimo deveria ter sido de R$ 4.277,04 – isso representa 4,29 vezes o salário em vigor, de R$ 998.
A realidade já é um despeito por si só. O opróbrio vigora quando a classe política, que tem o poder de decidir as ‘regras do jogo’, resolve valorizar a remuneração dos próprios cargos. Sem dúvida, a valorização merece louvor em detrimento do contrário. No entanto, é incompreendido o crescimento forçoso e proposital da discrepância entre os personagens.
Como registrei no início do texto, o salário mínimo poderá ser reajustado em 4,2%; o dos vereadores de Cachoeiro de Itapemirim foi em 69,70% (de R$ 6.192 mil para R$ 10.514) – a valer a partir de 2021. O do prefeito aumenta 22,49% (de R$ 14.450 para R$ 17.700); o do vice 36,36% (R$ 8.939 para R$ 12.188) e dos secretários passam de R$ 7.263 para R$ 10.514.
O discurso de defesa sempre se pauta na transformação do salário em atrativo para bons profissionais no serviço público. No caso da vereança, percebe-se que os R$ 10,5 mil por mês seduzirão ainda mais políticos profissionais, ‘à caça’ do status e suas benesses e não por conta da causa. Mais ou menos, da mesma forma que um ‘meteoro’ extinguiu o ‘amor pela camisa’ no futebol.
Vale ressaltar que todos os vereadores aprovaram o reajuste. Ou seja, os mesmos que, no início do mandato, juraram um novo jeito de fazer política, talvez, em acordo ou não, simplesmente fecharam os olhos, taparam os ouvidos para o eco da recente promessa e votaram ‘sim’ para o projeto.
Respeito os argumentos. Porém, há de se convir que a revolta popular é por só poder assistir os políticos se valorizando, enquanto afasta, ano a ano, o trabalhador brasileiro da dignidade.