Arthur não poderia ter nascido em uma data melhor. Ele chegou ao mundo neste domingo, 9 de agosto, Dia dos Pais, de cesariana agendada, na Maternidade Unimed, em Cachoeiro de Itapemirim, para se tornar o mais importante presente da vida do engenheiro civil Marcos Camporez, de 33 anos, e sua esposa, a fisioterapeuta Karlla Leal, de 32 anos, que moram em Marataízes. Arthur nasceu por volta das 8h, pesando 3,510 kg e medindo 49 centímetros, do parto realizado pela obstetra Gina Fornazier Emerly Chatack.
Mas a emoção com o nascimento do Arthur vai muito além de somente ser domingo, Dia dos Pais. O momento está sendo ainda mais especial porque o tão sonhado filho do casal é resultado de uma barriga solidária. E a responsável por tornar o sonho real é a fotógrafa Patrícia Monteiro Soares, de 45 anos, cunhada de Karlla, que se solidarizou com a impossibilidade de a fisioterapeuta gerar o próprio bebê por conta de um câncer no útero.
“Esse momento está sendo marcado por uma ansiedade gostosa, é um período de calmaria. A Patrícia teve uma gestação bastante tranquila e estamos todos bem. A cesariana precisou ser realizada com 39 semanas de gestação para evitar que ela entre em trabalho de parto. Quando fizemos o processo de fertilização in vitro, não imaginávamos que enfrentaríamos uma pandemia, que se estabeleceu no auge da gravidez”, conta Karlla.
Segundo Karlla, até então elas se viam todos os dias. Depois, com a necessidade de isolamento social, criaram um grupo de WhatsApp e passaram a se comunicar desta forma. “A cada soluço, mexida ou embolada que o Arthur dá na barriga, a Patrícia me enviava uma foto ou um vídeo”, afirma a fisioterapeuta, com felicidade estampada no rosto por ter no colo seu filho.
Casada há um ano e meio, Karlla viu o sonho de ser mãe quase terminar após descobrir um câncer, em abril de 2018. E o pior: há um mês do casamento. O diagnóstico veio com a realização de exames de rotina. “Ia casar e planejava ter um filho logo em seguida. Por isso, o Marcos insistiu que eu fosse ao médico. Queríamos saber se estava tudo bem comigo e se havia algum empecilho em engravidar”, diz a fisioterapeuta.
Foi quando um dos exames apontou a existência de uma mancha branca no colo do útero e a médica recomendou uma biópsia. “Fiquei tranquila porque eu não tinha qualquer sintoma. Tanto que, quando o resultado chegou no meu celular, eu nem tive a curiosidade de abrir. Resolvi olhar depois de algumas horas e vi a palavra carcinoma escrita”, lembra.
Diante do diagnóstico, veio a decisão de adiar o casamento para se submeter à cirurgia. Como a doença não havia atingido a parede do útero e não existia registro de metástase, de acordo com Karlla, não houve necessidade de realizar tratamento quimioterápico.
“Até então, os médicos disseram que a cirurgia não comprometeria o útero e que eu não teria problemas em engravidar. Porém, no intervalo de 15 dias, o câncer se alastrou no útero. E na cirurgia foi preciso retirar o órgão. Quando o médico me avisou que eu não tinha mais útero. ainda estava sob o efeito de anestesia, mas ali mesmo o meu mundo caiu”, recorda Karlla.
Oferta da cunhada
Ainda internada, Karlla soube que teria duas alternativas para se tornar mãe: por meio de barriga solidária ou por adoção. E no hospital mesmo começou a busca por mais informações sobre o chamado útero de substituição. “Quando decidimos que tentaríamos pela barriga solidária comecei a sofrer em silêncio porque não tinha ninguém em mente e nem sabia como abordar o assunto com alguém para pedir algo desse tipo. Até que a Patrícia foi me visitar um dia e chegou justo na hora que eu assistia uma série sobre infertilidade. Eu chorava tanto que não conseguia falar. Ela olhou para a TV e na mesma hora entendeu do que se tratava. Então, se ofereceu para ser a barriga solidária”, relata Karlla.
O processo durou cerca de um ano. Depois de uma série de exames, foi feita a fertilização in vitro em uma clínica de São Paulo. Para a comemoração do casal, familiares e amigos, o procedimento foi bem-sucedido logo na primeira tentativa. “Para falar a verdade, em nenhum momento achei que o procedimento não vingaria. Tudo aconteceu de forma muito leve e tive toda a assistência da médica de São Paulo. Ela foi solícita e disponível durante todo o tempo”, elogia a fisioterapeuta.
Patrícia será madrinha do bebê e está feliz em poder ajudar o casal. “Antes do problema de saúde da Karlla, já sabíamos do seu desejo de ser mãe. E quando há a oportunidade de fazer algo por quem se ama, o ato não se torna tão extraordinário. Tenho consciência do meu gesto porque as pessoas me dão esse retorno. Foi uma decisão minha muito madura e consciente”.
Casada com o professor Wescley Leal Machado, de 39 anos, irmão de Karlla, há quase 11 anos, Patrícia tem um filho de 15 anos de um relacionamento anterior. “Mesmo eu já tendo gerado uma criança, foi como se estivesse grávida pela primeira vez. É uma sensação diferente porque sei que o Arthur não é meu filho. Existe amor, é claro. E é diferente também porque, dessa vez, minha casa não foi preparada para receber uma criança. Não tinha quarto, berço ou enxoval. Minha ansiedade pelo momento em que ele seria colocado no colo da Karlla era enorme. Eu queria muito ver a emoção desse encontro”, comenta Patrícia.
Para o restante da família, a chegada do Arthur era só motivo de alegria. Afinal de contas, ele é o primeiro neto. “Todo dia chegou um presente diferente em casa. Meus pais já providenciaram até os bodies em comemoração a todos os mesversários. Toda a preparação para a chegada do meu filho foi maravilhosa, com exceção da pandemia, que fez a gente ter que comprar os itens do enxoval pela internet. Não deu para tocar, escolher observando os detalhes. Mas nos viramos do jeito que deu e está tudo pronto”, afirma Karlla.
Segundo Marcos, os últimos dias para a chegada do filho foram marcados pela ansiedade e expectativa. “Eu sempre quis ser pai. É algo que vem da minha criação, de ser muito família e de ter em todos os momentos os pais e avós por perto. Gosto muito de criança e a gravidez estava em nossos planos desde o começo”, diz o engenheiro civil.