Desta vez, foi o Partido Social Cristão (PSC), cuja primeira finalidade estatutária é a “defesa da vida desde a concepção”. O contexto é o escândalo das propinas sobre os contratos na saúde, em plena pandemia do novo coronavírus, no Rio de Janeiro. E a grande questão é a seguinte: a carga viral da corrupção no Brasil não está no ‘p’ de partido; e sim no ‘p’ de pessoas.
Mais de 110 mil mortos pelo coronavírus. Muitos seres humanos – pai, mãe, filho (a), avô (ó) – perderam a vida por falta de respiradores e leitos nos hospitais; isso, também no Rio de Janeiro. E o sacrifício da própria vida pela do próximo dos profissionais da saúde…
Enquanto isso, pelo o que apontam as investigações, bandidos (não podem ser chamados de políticos) se aproveitaram da calamidade para embolsar a verba que seria para salvar vidas – ou superfaturar. Na metáfora: é o sacrifício das ovelhas para o enriquecimento do pastor.
O governador Wilson Witzel (PSC) foi afastado do cargo por seis meses; o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, foi preso e mais oito pessoas foram denunciadas Procuradoria-Geral da República (PGR).
A corrupção existe desde os primórdios, óbvio. E se mantém pela hereditariedade desta mentalidade cancerígena. Temos a falsa impressão de poder de escolha, quando na verdade o leque de opções, em boa parte, é de integrantes dessa dinastia.
Não há dúvida da presença de bons políticos no mercado brasileiro e também da existência, ainda que morosa, de renovação. No entanto, a meu ver, a renovação não é só votar em outro, e sim transformar a sistemática ao ponto de sermos os protagonistas das opções postas.
Estúpida retórica? Não. Isso se faz incentivando aquelas pessoas que você confia na honradez a se filiar a um partido e se candidatar. Convencê-las de que a política está encubada e que só será realmente transformadora na vida dos seres humanos com a participação de gente com a índole que ela preserva.
Saiba: “O espaço do poder nunca está vago” (Leandro Karnal). As opções para ocupar esses espaços têm que ser construídas na base; goela abaixo já nos lesou demais. É ultrajante ouvir desculpas de que ganhou dezenas de vezes na Mega-Sena ou que é a alma mais honesta do Brasil ou ameaçar socar a boca de quem pergunta sobre suposta propina que a esposa teria recebido.
Já passou da hora do ‘façamos nós’. Já que é através da política que é decidida o preço da vida e a sua qualidade, temos que garimpar bons nomes – e tem – para arrancar à força os respiradores da corrupção.