Para além do 8 de março

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por Yasmim Giro

 

Há tempos que o movimento feminista, em sua complexidade e diversidade de vertentes, tenta ressignificar o 8 de março como uma data política. A mídia e o mercado cooptaram e a transformaram num palco de perpetuação dos valores dominantes, seja através das vendas de produtos domésticos, seja através de cursos voltados para a administração do lar, como as oficinas ofertadas pelo STJ (Supremo Tribunal de Justiça) que contam com “Rotina familiar, produtividade e gestão do tempo”, “Planejamento do Cardápio” e “Homeschooling, sono da criança e tempo de qualidade”.

Essa tendência em reafirmar o lar como um espaço feminino e a educação dos filhos como um
papel exclusivo das mulheres, não é novidade pra nós, tampouco para autores que trabalham com essa questão, como a Maria Beatriz Nader, que destaca a expectativa existente de que a mulher permaneça no ambiente privado, ao tempo que, espera-se que os homens explorem o ambiente público e o mercado de trabalho.

Na prática, podemos notar que essa tendência foi um sucesso. Observando a participação feminina na Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, e não só aqui neste município, notamos o longo caminho que ainda precisamos percorrer para que a representação de mulheres se torne algo palpável na medida em que políticas públicas possam ser construídas. Para tal, é necessário que pensemos em representantes que tragam consigo agendas feministas. Jogo o questionamento: eleger mulheres que não pretendem representar mulheres se diferem em quê dos homens que ali estão?

Cachoeiro de Itapemirim é a maior cidade do Sul do Espírito Santo e não dispõe de uma casa abrigo para mulheres em situação de vulnerabilidade. Será que essas mulheres não existem? Ou propositalmente são silenciadas? A pandemia escancarou números absurdos de casos de violência doméstica. A cada 9 horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. Por aqui, silêncio das autoridades. Como esquecer o caso da Mari Ferrer? Escancarou-se o machismo presente nas instituições em sua face mais perversa. Silêncio e esquecimento da sociedade.

Por isso, se você homem, nos desejar um “Feliz dia das mulheres” e não respondermos com um enorme entusiasmo, saiba que é por isso: é cansativo e doloroso! Cansa e dói assistir a morte das nossas. Cansa e dói não ter uma resposta ou um olhar das instâncias que deveriam nos representar. Dói saber que muitas das nossas não tem um lar que se sintam seguras.

Ressignificar o 8 de março é lançar esses questionamentos. É celebrar também a luta das mulheres que vieram antes de nós. E são tantas! Emiliana Vianna Emery, Judith Castello Ribeiro, Bertha Lutz, Dandara, Marielle, Rita, as Marias, as Joanas, as Dilmas, as Elzas, as Olgas… Tantas mulheres, tantas vozes… E a luta travada por todas, seja na esfera da macropolítica ou na esfera das microrelações que permeiam nossa vida.

Se me perguntarem o que eu quero, responderei que quero ações, políticas públicas, mulheres dentro da política, mudança dos partidos em compor candidaturas femininas, igualdade salarial e de oportunidades, fim do genocídio da população preta para que as mães desses indivíduos não mais chorem sem saber onde estão seus filhos, fim do feminicídio, quero que nossas dores não sejam invisibilizadas… Ufa!

Vocês podem ficar com as flores e com as máquinas de lavar, nós vamos à luta!

 

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