A troca afetiva do sujeito contemporâneo

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Por Gabi Prado

O ano é 2015. Comecei a viajar pelas teorias a respeito da vida sob a luz da rede social (existências virtualizadas e a relevância dos corpos que habitam a Web naquele espaço) e assim nasceu o meu trabalho de conclusão de curso: “Eu na rede: as redes sociais como vitrine da bioidentidade contemporânea e suas implicações subjetivas”.

Concentrei meus esforços na representação do like para o usuário de redes sociais e como esse dispositivo tinha a capacidade de fornecedor maior ou menor valor ao conteúdo que fora compartilhado. Na época, priorizei na pesquisa perfis de musas fitness (que eram um dos maiores fenômenos na web), usuários que podemos comparar hoje aos micro influenciadores e amigos que não possuíam participação efetiva naquele espaço de troca.

A recordação de que uma das pessoas entrevistadas durante a execução do trabalho havia determinado uma quantidade de curtidas considerada ideal para que uma de suas publicações tivesse o mínimo de aceitação na web ainda é latente. Pois é justamente daí que se cria o imaginário daquilo que vem ser o ideal/o bom o suficiente ou não/um fenômeno/um sucesso numa rede social e se fundamenta a lógica dos sujeitos que elegemos, atualmente, como influenciador.

O ano é 2021. Nos encaminhamos para uma vivência profundamente digitalizada. O sujeito contemporâneo, como nomeei no trabalho citado, é um ser virtualizado em demasiada que não aprecia sua vida sem os recursos dos aparatos tecnológicos. A extensão se formalizou e alcançou patamares maiores do que cogitei outrora e, embora tenha certo apreço pelo universo das mídias digitais, não consigo negar que algo dentro de mim o observa com estranheza.

Challanges, dublagens, lives, reels, vídeos, fotos computadorizadas e uma pandemia que se introduziu na nossa veia social para consolidar as ferramentas disponíveis de interação e contato por tela (fria) e, por consequência, fortalecê-las. Quando assistia Black Mirror, não imaginava que chegaria tão rápido o momento em que nossas vidas estariam completamente atravessadas pelo aparato digital e suas proposições sociais… eu me via assustada.

Abro os olhos todas as manhãs e constato a consolidação das subjetividades bioidentitárias ao rolar o meu feed do Instagram e estabelecer, através do simples toque na tela do meu celular, o tipo de troca afetiva disponível para nós, sujeitos contemporâneos. Os próximos passos dessa caminhada são infinitos em direção a algo ainda desconhecido, mas assustador. Será que, até lá, será possível dar a mão (a um amigo, familiar, amor) para andar junto?

 

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