Diante da polêmica atuação do Ministro Ricardo Salles à frente da pasta meio ambiente, não há como ignorar o que há em torno deste assunto: seu relacionamento com Jair Bolsonaro. De acordo com o que pude apurar, o Ministro é “persona non grata” desde o centrão até o agronegócio, porém seria considerado pelo Presidente, um dos mais eficientes de sua gestão.
Essa relação me remeteu a abril do ano passado, ocasião em que o ex Juiz Sérgio Moro deixou o Ministério da Justiça e a mídia nacional noticiou o fato dizendo que o Governo acabara de perder seu mais valioso selo de qualidade. Ou seja, de certa forma, a eficiência da gestão Jair Bolsonaro estava associada à presença de Sérgio Moro.
Temos então, um Ministro escancaradamente rejeitado, inclusive por apoiadores do Presidente e por líderes mundiais se mantendo no Governo, e um Ministro que era considerado praticamente um justiceiro, aclamado pela maioria, que não resistiu a nem dois anos, e saiu pela porta dos fundos da esplanada. Um paradoxo carimbado com “selo Brasil de qualidade’.
A constituição das bases e planos de governo faz parte do nosso processo eleitoral, onde são delimitados os caminhos a serem percorridos ao longo da gestão, para o alcance de determinados objetivos, e quem serão os agentes envolvidos. Esses agentes são os responsáveis por implementar as ideias dos eleitos, que no caso, estão vinculados a plataformas político partidárias. Orgânico.
Assim, ao analisarmos uma gestão é importante que avaliemos também quem são os agentes que compõem sua base, por que eles espelharão as intenções governamentais. A equipe de governo é o braço do gestor principal. Ministros, secretários de governo, assessores, gerentes, coordenadores, subsecretários, diretores, refletem o tipo de trabalho que o gestor quer desempenhar, bem como o perfil comportamental e gerencial do representante que elegemos. Então, mais do que acompanhar o nosso eleito, nós devemos observar todo seu staff, pois ele diz muito.
Avaliar como são os agentes públicos que circulam a administração em qualquer esfera é um excelente filtro a ser aplicado. Mais do que saber quem são esses agentes, observar como é o seu relacionamento com a chefia imediata e com o próprio chefe do executivo. Eu não estou aqui falando de amizade, nem respeito, tampouco de obediência ou submissão, eu estou pontuando perfis de afinidade e interação.
Sim, podem existir cabos de guerra invisíveis, puxados em discussões que envolvem desde decisões estratégicas, até o puro e simples cumprimento da lei, que denotam a falta de interação, a competitividade dentro da administração pública e até mesmo a ilegalidade.
Nessa guerra, o lado mais fraco obviamente perde. Ou porque o outro lado puxou mais forte, ou porque o lado mais fraco simplesmente preferiu soltar a corda, que no caso, foi o que o Moro tentou transparecer. Há quem acredite, há quem não…
Então, outra coisa que podemos avaliar são os motivos que afastam ou mantém os agentes na administração pública, buscando saber os motivos que fizeram tal ministro, secretário municipal ou estadual ter saído da administração ou o porquê ele está sempre lá, mesmo que os indicadores dele sejam péssimos. A saída inesperada ou permanência inveterada de agentes da administração pública fala muito a respeito tanto de quem saiu, quanto de quem ficou.
Cabe a nós apenas pensarmos fora da caixinha, olhar em volta, ler as entrelinhas. Postura de desconstrução, análise individual, pensamento amplo e visão holística nunca fizeram mal a ninguém. Sim, é necessário que avaliemos se nossos governantes estão, através de seus aliados, instrumentalizando cargos públicos para objetivos pessoais ou político partidários.
O poder emana do povo, e está apenas delegado aos nossos governantes, que devem trabalhar por nós, para nós, e não para grupos específicos e por tempo limitado.