O pai tá on (?)

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Por Tatiana Pirovani

 

Antes de nascer, ouvi dizer que a escolha do meu nome variou entre Marina e Poliana. Depois que nasci, para agradar minha avó, meu pai me registrou “Tatiana Aparecida”.

Meu pai fez hora extra no trabalho por muitos anos; lembro até hoje do cheiro da comida que ele arrumava cedinho numa marmita amarrada com uma borracha preta. Meu pai também trabalhou como garçom aos finais de semana, e acordava a gente de madrugada para comer salgadinho de festa chique. Aos domingos, quando Senna vencia, ele me dava uma Coca Ks, para eu comemorar junto com a champanhe do podium.

Quando eu tinha quatro anos, meu pai lia a mesma história para mim toda noite. Aos poucos ele foi inventando sequências que não estavam escritas, até que um dia, Tita, a personagem principal, foi acometida por uma terrível diarreia em público. E aí, eu não quis mais saber desse livro.

Meu pai me ensinou a escrever meu nome imenso para eu entrar na escola sabendo alguma coisa e, ao longo da minha infância, ele me levou todo domingo ao circo da cultura para ver os cágados e jabutis. Na adolescência, ele me ensinou a cozinhar e me buscou nas festinhas.

Meu pai nunca me ensinou o dever de casa, mas quando se aposentou, ele não parou de trabalhar, porque eu precisei sair de Cachoeiro para estudar e era necessário sustentar uma segunda casa. Depois que me formei, meu pai me acompanhou à entrevista do meu primeiro emprego, e ia até o centro da cidade todos os dias levar minha comida, para eu não precisar esquentar marmita como ele – durante sete anos ininterruptos.

Ele me trouxe à consciência os limites entre ganhar dinheiro x ter a mente em paz. Foi ele quem escolheu meu vestido de noiva, pois eu e minha mãe ficamos indecisas. Também foi meu pai que, na hora do casamento, disse que eu poderia desistir se quisesse, apontando para o carro estacionado na rua. Foi ele quem eu procurei primeiro quando me separei e foi ele quem lançou o clássico “antes só…”. Foi ele quem ofereceu ajuda caso eu estivesse mantendo uma relação por medo de passar dificuldades financeiras.

Meu pai, arruma a mesa do café da manhã para mim até hoje, e nós nem moramos juntos. Ele vai ao mercado e manda mensagem de lá perguntando se eu quero brócolis. Se eu não respondo, na dúvida, ele traz.

A presença física, afetiva e material do meu pai me formou como pessoa. Sou grata.
Sou grata, porque sei que a ausência de um pai pode gerar consequências nos adultos, uma vez que as crianças crescem lidando com o trauma do abandono e a “normalização” da indiferença.

No Brasil, em 2020, 80 mil crianças não foram sequer registradas pelos pais, que dirá cuidadas. No total, 5,5 milhões de adultos não são reconhecidos pelo progenitor. Essas crianças podem crescer com o sentimento de que não são importantes o suficiente para sobrepor aos demais interesses do pai.

Ei! Filho não é pet, para o pai só manter e levar para passear. Pais e mães ocupam o mesmo lugar de importância e responsabilidade. Pai não ajuda, pai participa ativamente. Isso não deveria ser considerado um diferencial. É o básico.

 

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