Cachoeirenses falam sobre o Dia Internacional da Mulher Negra

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mulher negra

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha foi ontem (25) e o Em Off Notícias conversou com algumas personalidades para saber se há o que comemorar.

Embora os direitos da mulher registrem avanços ao longo dos anos, especialistas no assunto afirmam que é necessário luz sobre as mulheres negras que, por muitas vezes, não conseguem a perseguida igualdade entre o próprio gênero, por questão de cor e raça.

 

Enegrecer o debate

Referência no assunto, a advogada Fayda Belo falou sobre a data. “É muito simbólica essa data para que as pessoas não se esqueçam que a mulher negra também é uma mulher, já que segundo o anuário de segurança pública somos mais de 60% das vítimas de crimes sexuais, de violência doméstica e dos crimes de homicídio”, disse.

“Esse último inclusive, no que tange as mulheres brancas diminui no último ano, já quanto as mulheres negras aumentou, ou seja, a mesa que pensa, que trata as políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher não tem feito o recorte racial, e por isso ainda que tenhamos avançado em direitos das mulheres, a maioria dessas políticas públicas ainda não alcançam a mulher negra, que se anote é duplamente vulnerável.Sofre por ser mulher e por ser negra, de forma que isso impede não apenas o avanço no enfrentamento à violência, como no alcance de outros direitos, como no mercado de trabalho, já que ainda hoje a mulher negra ganha mais de 30% a menos que as mulheres não negras”.

 

 

Fayda também comentou sobre os avanços. “As políticas públicas inclusivas têm feito com que avancemos em inclusão e ocupação de espaços, mas precisamos lembrar que sem o recorte racial será impossível alcançar a equidade, já que enquanto as mulheres não negras buscam a equidade de gênero com os homens, as mulheres negras sequer conseguem alcançar essa equiparação entre as outras mulheres”.

O Em Off Notícias perguntou também os que as mulheres negras precisam aderir para serem respeitadas. “A representatividade é importante, mas precisamos de mais políticas afirmativas de inclusão, e que mais mulheres negras ocupem espaços de decisão para que um dia a balança da igualdade seja finalmente equilibrada. É preciso enegrecer o debate”.

Lembrança da luta

Para a bióloga Mayara Batista, o dia 25 de julho não se trata de uma comemoração, mas sim de uma data para lembrar da luta das mulheres negras, latinas e caribenhas.

“Em 2014, a ONU (Organização das Nações Unidas) proclamou esta data, lembrando Tereza de Benguela, líder do quilombo de Quariterê, onde era conhecida com rainha Tereza e abrigava mais de 100 pessoas, incluindo indígenas. Enquanto o feminismo branco luta por direitos patrimoniais e direitos reprodutivos, o número de mulheres negras ganha uma curva acendente. Em 2021, no Brasil, mais de 1.341 mulheres foram vítimas de feminicídio, dessas 62% eram mulheres negras. A invisibilidade da mulher negra na luta de classe, gênero e raça torna necessária uma agenda específica na luta contra a violência, a desigualdade e a fome”, registrou.

“O movimento feminista e o movimento negro nasceram juntos nos anos 70 no Brasil, unindo forças para a luta contra a desigualdade, porém as mulheres negras tiveram que “enegrecer” a agenda do movimento feminista e “sexualizar” a do movimento negro, promovendo uma diversificação das concepções e práticas políticas em uma dupla perspectiva, tanto afirmando novos sujeitos políticos quanto exigindo reconhecimento das diferenças e desigualdades entre esses novos sujeitos. Uma ruptura se fez necessária durante a ditadura, uma vez que o Movimento das Mulheres Negras era impedido de participar de espaços de tomada de decisões políticas”.

Mayara traçou uma linha do tempo desde 1827, quando as mulheres brancas conquistaram o acesso às escolas, enquanto mulheres negras eram escravas, até 1962, que foi quando as mulheres podiam trabalhar sem pedir autorização do marido. “A linha do tempo na luta sufragista e a luta dos negros mostra o quão desigual é nosso país”. Quanto ao respeito às mulheres negras, Batista acredita que “a postura a ser tomada não é da mulher negra, e sim da sociedade que precisa ser tranformada para reparar as injustiças históricas contra elas e promover equidade”.

União de vozes

O Em Off Notícias também pegou a opinião da advogada Viviane Lupim, que faz parte da Comissão de Igualdade Racial, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), de Cachoeiro de Itapemirim. Ela fala sobre a importância da data, os avanços e o respeito.

“O dia da mulher negra, latino-americana e caribenha é um marco da união de vozes de mulheres negras de todo o continente. Não é um dia para ser somente comemorado, mas sim, para dar visibilidade à luta das mulheres negras, relembrando a nossa trajetória de resistência, na busca por direitos, equidade e justiça social”, falou.

 

 

“Temos avançado na defesa de direitos das mulheres negras. Contudo, nossa luta ainda é muito árdua. Além de estarmos na base da pirâmide socioeconômica, as mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio. Nossos passos vieram de longe, se hoje temos voz para lutarmos, é porque outras que vieram antes de nós, deram o sangue e resistiram até o fim. Mas não podemos parar, até que nenhum direito nos seja negado.

Para ela, a iniciativa para conquistar o respeito não está estritamente ligada às mulheres negras. “Na verdade, a pergunta principal deveria ser: Quais medidas a sociedade civil e o poder público tem tomado para garantir direitos e minimizar opressões direcionadas às mulheres negras? A sociedade como um todo, precisa se mobilizar contra esse modelo misógino e racista, que oprime mulheres negras. É responsabilidade de todos garantir que mulheres negras tenham seus corpos respeitados, ocupem espaços de poder e possam assumir seu protagonismo”.

Data política

A professora Maria Gabriela Verediano considera o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, criado há 30 anos, uma data política.

“Não é comemorativa, mas, sim, política. É uma data que evoca um debate de onde nós viemos, por ter sido personificado na figura de Tereza de Benguela, e onde nós conseguimos chegar hoje em termos de justiça social, qualidade de vida e avanço enquanto comunidade”.

 

 

Maria também fala dos avanços conquistados até os dias atuais. “O número de mulheres negras dentro da universidade e na participação da vida política aumentou nos últimos 30 anos. Apesar dos números ainda estarem longe de uma equidade, o avanço foi significativo graças às políticas públicas de igualdade racial”.

Em relação à pergunta sobre o que as mulheres negras precisam aderir para serem respeitadas, Gabriela foi direta. “Eu acredito que o conhecimento ainda seja uma arma muito eficiente pra ser usada contra o próprio sistema racista. Todos os avanços sociais que foram realizados no Brasil – desde a Abolição, passando pela Lei Caó e até as cotas – só foram possíveis porque houve um movimento de grupo de ativistas intelectuais negros. A Audre Lorde fala que as ferramentas do mestre nunca irão desmantelar a casa-grande, não dá pra esperar que o próprio sistema racista seja capaz de mover as suas estruturas pra que ele se autodestrua. Nós precisamos de mobilização coletiva pavimentada de professoras, advogadas, políticas, cientistas, acadêmicas e ativistas negras unidas em direção à construção de uma sociedade mais justa”.

 

 

 

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