Na noite do último sábado (17) foi realizada, no Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, a tradicional festa Raiar da Liberdade, que, segundo a tradição oral, ocorre na comunidade desde a assinatura da Lei Áurea, em 1888. Com a presença de diversos grupos de patrimônio imaterial da região sul capixaba, o evento relembrou a luta do povo negro pelo fim da escravidão no Brasil, estimulando uma reflexão sobre o tema.
Apresentações de folia de reis, charola de São Sebastião e capoeira marcaram o festejo, assim como as rodas de caxambu, sempre entoando versos tendo a abolição como tema central, deixando fortes declarações de um passado de escravidão. Além disso, a feijoada comunitária é uma parte essencial do Raiar, e é sempre servida aos presentes ao final do evento.
“Estarmos presentes nesta festa de Monte Alegre é sempre uma enorme satisfação. Sempre que há uma oportunidade, meu grupo faz questão de se apresentar aqui. Realmente é uma forma especial de mostrar nossa história e nossa cultura ao público”, comenta Dona Erotildes Pereira da Silva, mestra da Charola de São Sebastião de Jacu e Alto Paulista.
Zeli Ventura, uma das mestras do grupo de caxambu Santa Cruz, afirma que “o Raiar representa uma oportunidade de refletir sobre quais efeitos a Lei Áurea trouxe para o povo negro e se a escravidão realmente acabou no Brasil”. Ela ainda lamenta o fato de que, pela primeira vez em muitos anos, a festa não contou com a viabilização por editais de incentivo à Cultura, e foi realizada apenas com doações e por iniciativa de instituições como o Instituto de Preservação do Patrimônio Cultural Ádapo e a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense.
“Na verdade, o correto seria o estado financiar o Raiar de forma permanente, pois assim demonstraria, na prática, que o poder público verdadeiramente se interessa em preservar nossa identidade”, pontua ela, que também é moradora de Monte Alegre.
Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo pelo Conselho Estadual de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em 2024, o Raiar da Liberdade é organizado pelo Santa Cruz, grupo de caxambu do próprio quilombo, que é comandado pelas mestras Maria Laurinda, Adevalmira, Neuza, Geralda e Zeli