Após ter a legitimidade do mandato contestada por parte da população e, em tempo recorde, cair no poço sem fundo da impopularidade – superando a antecessora -, o presidente da República, Michel Temer (MDB), joga no lixo a oportunidade de deixar o posto, pelo menos, com uma marca de quem tentou um diálogo honesto com os caminhoneiros, que, há dias, paralisaram as atividades em protesto em todo o Brasil.
O fantasioso acordo anunciado na noite da quinta-feira (24) foi o ápice de uma postura desinteressada na pauta em questão e, principalmente, à dignidade daqueles que a reivindicam. Quanto a isso, basta ver, em seguida, a revolta dos caminhoneiros que afirmaram que o governo negociou com entidades que não os representam. Ou seja, uma espécie de ‘teatro dos vampiros’.
O desabastecimento em todas as cidades brasileiras, prejudicando todos os setores, nasce da inabilidade (proposital ou não) do próprio presidente. Ele preferiu deixar a corda esticar para depois ‘nomear’ culpados – como se tivesse a opinião pública como arrimo.
O que se vê são brasileiros – fora dos protestos nas estradas – suportando as dificuldades oriundas da falta do serviço de transporte de mercadorias e insumos em integral apoio ao movimento. Temer sente na pele a fúria viva dos números negativos das pesquisas de satisfação do eleitorado.
Michel Temer já pode ser considerado um fenômeno na história da República brasileira: em menos de dois anos, desagradou ‘gregos e troianos’; é um peso eleitoral para o próprio partido; tem em seu desfavor preocupantes denúncias de corrupção; é tido como ‘inimigo’ dos trabalhadores, dos aposentados, dos estudantes, dos caminhoneiros – e, pela adesão popular junto ao protesto dessa classe, consolida-se como carrasco de todos os brasileiros.
E como bem diz a sabedoria popular ‘nada é tão ruim que não possa piorar’. Com a decisão de combater com força policial a manifestação legítima dos caminhoneiros, Temer tem que rogar às suas crenças para que esta operação abrupta não transforme em vítimas os muitos chefes de família que ‘gritam’ para ter no bolso um pouco mais daquilo que eles produzem.