Por Yasmim Giro
Todo dia 31 de março um gosto amargo vem à boca. Data emblemática por seu significado. Concretizava-se o golpe, em 1964, que deu início à Ditadura Civil Militar, regime que assumiu o poder por 21 anos e foi legitimada por cidadãos de bem que temiam a chegada do comunismo no Brasil.
Marcado por atos institucionais, bipartidarismo, perseguição política à opositores do regime, anulação do habeas corpus e incontáveis mortes e torturas praticados por militares, foi de fato, um período de horror da história. Com os dizeres “Brasil, ame-o ou deixe-o”, atrocidades foram cometidas, em nome da segurança nacional.
Porém, caro leitor, você pode estar se perguntando “Yasmim, se a ditadura foi todo esse horror, por que muitos ainda clamam seu retorno?”. Eis aqui o motivo do gosto amargo na boca. Ao meu ver, e não é difícil comprovar este fato, o Brasil nunca apresentou o interesse e preocupação de lidar com suas dores, começando com a escravidão, projeto de Estado, que marcou presença por 300 anos e que ainda apresenta cicatrizes visíveis, tampouco com a Ditadura Civil Militar.
Quando não lidamos com as feridas, sementes frutificam. Se o Brasil fosse um país responsável por seus horrores, o, até então deputado na época, Jair Messias Bolsonaro, teria saído preso da votação do impeachment da Presidente Dilma, onde, enalteceu um dos torturadores mais cruéis da Ditadura, o Brilhante Ustra.
De tanto tolerar o intolerante, o ódio se fez rotina. Um país que se cala perante atos cometidos, compactua com o que aconteceu. É preciso constantemente relembrar os nomes, as profissões, as famílias dos verdadeiros heróis, aqueles que lutaram pela liberdade e pela democracia.
Karl Marx dizia que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. O povo que não conhece sua história, tente a repetir seus erros. Os jovens, e eu me incluo, nascidos na redemocratização e que cresceram gozando de todos os seus direitos, podem não dar o devido valor à democracia. Mais do que nunca, precisamos estar vigilantes, uma ditadura se instaura aos poucos… descrédito à imprensa, perseguição de opositores (utilizando a lei de segurança nacional como desculpa para tal ato), manipulação de dados, discursos a favor do fechamento do congresso e do STF (AI-5?). Queria poder afirmar, leitor, que esses elementos que elenquei fazem parte apenas da Ditadura Civil Militar (1964-1985), mas são todos atos do atual governo. Pergunto-lhes, a farsa já começou?
Enquanto houver uma pessoa que lembra o valor da democracia, estaremos fortes sendo resistência.
Vamos juntos.