Foi no ano de 1980 em Alegre ES que o fato se deu. Estava eu, em minha cidade, num dia meio friento, quando fui a uma banca de revistas, peguei o jornal e vi que havia começado as inscrições do Festival de Música de Alegre.
Fiquei muito interessado, pois, nessa época, tinha em todo o estado e em estados vizinhos esse tipo de evento e nós, músicos, procurávamos participar de todos.
Tinha uma euforia danada porque era um meio de mostrar nosso trabalho; e o público ia, participava cantando, levando faixas, essas coisas de torcida organizada. Comecei a arrumar o dinheiro emprestado e logo fiz minha inscrição com 3 músicas autorais, como muitos outros músicos de Cachoeiro; e ficamos aguardando a classificação ou não. A tristeza me abateu: minhas músicas não haviam passado.
Fazer o que? Pensei: paciência! O dia ia chegando e eu, simplesmente, iria aplaudir a que me interessava. Mas, aconteceu que a música de Reinaldo Faria Melo e José Aleixo foi classificada. “Meu Canto” era o meu passaporte pra entrar sem pagar. rssss. O Reinaldo estava estudando musicoterapia no Rio e calculei que não daria pra ele vir. Então, o que fiz?: me tornei o intérprete da música! Sabia a letra, a música, a introdução, enfim, tudo.
Pronto. Decidido. Vou pra Alegre, interpreto a música e ele ficaria sabendo depois, e tudo se resolveria.
Parti pra Alegre, me apresentei e fomos pro ensaio. Chamei o Carlos Macedo, e mais dois rapazes cuja música fora desclassificada. E começamos: nos sentamos ao lado do palco, na grama, pois era num campo de futebol.
Música pra lá, música pra cá e aí acontece o inesperado. Quem aparece, quem, quem? Reinaldo Farias Melo (primeiro lugar em musicoterapia) e Dante Soares (segundo lugar em musicoterapia). Eu estava bem acompanhado, não?
Então, conversamos sobre a música, o festival e tudo que já havíamos feito antes da chegada deles.
Começa o festival, gente saindo pelo ladrão, pessoas estáticas, músicos pulando, soltando a voz, dando o seu melhor. Resumo: felicidade pelos quatro cantos do estádio de futebol.
Passamos pra fase final em que seriam escolhidos os 3 vencedores. Apresentei-me com toda a verve que um músico pode se mostrar. Quando terminou a música, sinto que tinha esquecido uma parte! Os músicos estando na parte detrás do palco, daí eu me voltei para o Dante e pedi-lhe desculpas porque tinha esquecido parte da letra e pro Reinaldo, pedindo-lhe que não parasse de solar – recomecei a cantar finalizando com o refrão:
“Grito de paz
solto no ar
eu sei que sou”
E o público continuou a cantar por mais de 5 min. Saímos e, segundos depois, o amigo e jurado no dia, Luiz Trevisan, disse-me que eu ganhei o 3º lugar. Logo que foram anunciados os
classificados… fiquei em segundo. O Grupo Janela Aberta em 3º e o Grupo Paiol em 1º. Ai foi só comemoração. Pulei de peito na grama do campo, pois, no dia anterior, havia chovido! Nos reunimos no campo da Caufes, tocamos violão até o amanhecer e a amizade conquistada perdura até hoje.
Grupo Paiol: Himero, Bona, Fabinho e Paulo
Grupo Janela Aberta: Zé Olavo entre outros.
Depois, tiveram mais 5 edições, quando aconteceu o ‘Boomm’ que fez com que o grande festival de Alegre se transformasse em empresa multiprofissional… acabando com o brilho dos primeiros!
Triste sina da “tenicologia”. Esta foi uma de tantas histórias que participei.