Por Gabi Prado
Há tempos sem escrever. Pausas transcritas como hiato de um tempo que não tem nome,
muito menos “ócio criativo”, pois nada criei. Acumulei funções, tarefas, trabalhos, percebi-me
sem braços para abraçar todas as causas até que vislumbrei fracassar. Mas que fracasso seria
esse de uma mulher que busca correr de encontro àquilo que é seu?
Houveram conversas. Não obtivemos respostas. Aflorou o sentimento de culpa e a inércia
tomou conta até que percebemos que pausas (daquelas que não figuram ócio criativo)
também fazem parte do processo de quem se precebe sobrecarregado – de suas escolhas, das
circunstâncias, dos eletrônicos que motivam toda a existência e pifam quando sua vida útil
chega ao fim.
O hoje foi dedicado a experimentar. Dedicado a sair da rotina para encontrar outro tipo de
trabalho, outro tipo de lazer e a escrita adormecida que também se configura – trabalho. No
dia em que o online não se fez presente, determinou uma dinâmica off-line e fez aflorar algo
que não nos cabia em tempos ansiosos de informações imediatas: a calmaria.
Olhei atenta para o céu, deixei minha pele queimar no sol e senti o calor sem registrar
qualquer tipo de imagem da natureza que me fazia parte em postagens de 15 segundos
aceleradas em boomerangs e mascaradas de filtros. Não digo isso por ser avessa às redes
sociais, mas justamente por ser filha da tecnologia e, por perceber ali, o quanto das minhas
sensações se esvaem em lógicas algorítmicas.
O sol se fez música e preencheu a casa turbulenta que há tempos estava silenciosa… sem falas,
expectativas, enredo, projeções para um futuro com planos concretos e passíveis de
realização. O anseio, agora, é de que esse texto seja publicado, somente. Penso que adormeci,
acordei e o despertar é um processo constante de vida.