Já parou para se perguntar como que uma embarcação conseguia chegar a terras “estranhas” da África, selecionar em meio aquela nação os negros mais fortes e saudáveis para posteriormente escravizá-los em terras brasileiras? Polêmico esse assunto, talvez tema para uma outra reflexão, mas foi após umas dessas dolorosas viagens que chegaram ao Brasil alguns dos meus ancestrais.
Em 1860 um casal de escravos que aparentava idade média entre 45 e 50 anos, de possível origem angolana, seria responsável por firmar o início da minha família em terras capixabas. Já escravizados, foram assim, como bens materiais, repassados a outros fazendeiros, pois eram partes de uma herança e, na época, o filho caçula desse casal também fazia parte da partilha, porém não fora documentado, afinal de contas quem estaria preocupado em registrar um filho de negros com apenas 8 meses de idade? Essa criança se tornaria mais adiante o meu bisavô.
A história da escravidão não gira em torno da minha família, somos apenas uma parte dessa imensa história de dor, separação, falsas promessas de liberdade, condições desumanas ao extremo, trabalho, trabalho e muito trabalho. Essa é só uma parte da história que tem referência bibliográfica no livro “Simplesmente Monte Alegre”, escrito por Leonardo Ventura, um primo em meio a uma complexa árvore genealógica.
Por influência da insatisfação com o modo de sobrevivência, por influência de homens livres e de bons costumes, por influência da revolução industrial e de outros muitos fatores determinantes que os negros foram libertos. E para suprir a ausência de muitos desses nas lavouras que surgiram imigrantes, como os italianos.
Meus Deus! Onde eu vou chegar contando esses fragmentos da história? Quero dizer que ser descendente de negros não me impediu de lutar por um futuro melhor. Foi possível estudar em meio às dificuldades financeiras, foi possível trabalhar, buscar uma formação acadêmica sem auxílio de cotas e/ou programas sociais. Não estou aqui dizendo que foi ou que está sendo fácil, mas foi possível! É muita perda de tempo ficar procurando um culpado para nossos problemas. O Brasil é um país miscigenado; nem mesmo um tribunal racial seria justo o suficiente para dizer quem tem mais ou menos “direitos” entre nós apenas em função da cor da pele.
Se um homem Negro e uma mulher Branca tiverem dois filhos, sendo que um tenha a cor do pai e outro a cor da mãe, teria um mais ou menos direito que o seu irmão?
A consciência não precisa ter raça especifica e nem data especifica, precisa ser um exercício diário de todos cidadãos. Somos iguais, livres e irmãos!