Por Gabriela Fonseca
@psigabriela_fonseca
Nos dias de hoje, é comum notar que muitas pessoas estão optando por relacionamentos com animais de estimação, como cães e gatos. Esses companheiros não julgam e oferecem um amor mais simples e menos complicado do que o amor humano. Em um mundo onde a internet nos conecta instantaneamente, paradoxalmente, nos tornamos talvez a geração mais solitária, ansiosa e deprimida de todos os tempos. A proteção ilusória que a tela nos oferece nos faz acreditar que é mais fácil conquistar o “crush” ideal. E assim, os elogios se transformam em likes, os encontros se limitam a videochamadas e as amizades se tornam uma coleção de seguidores em redes sociais, enquanto os momentos se tornam registros vazios de experiências “instagramáveis”.
Será que desaprendemos a arte de nos relacionar? A tolerância parece escassear, e muitos se tornam defensivos, buscando conselhos em coaches e gurus de relacionamentos, muitas vezes sem formação ou embasamento. Esses conselheiros, disponíveis a um clique de distância, muitas vezes oferecem opiniões que apenas reforçam o que já queremos ouvir, sem considerar as consequências a longo prazo. A manipulação e a persuasão se tornaram técnicas comuns na busca por conexões, mas isso só serve para mascarar nossas inseguranças e criar relações superficiais e narcisistas.
Em vez de avaliarmos o que podemos oferecer ao outro, focamos no que recebemos. Um velho conselho dos meus pais, casados há quase quarenta anos, ecoa em minha mente: o amor nunca foi um “por causa de…”, mas sim um “apesar de…”. Precisamos refletir sobre o que realmente desejamos em um relacionamento. O outro é um universo à parte, não uma simples extensão de nós mesmos. Relacionar-se exige paciência, zelo, tolerância e, acima de tudo, escuta. Cada relacionamento traz seus desafios, e conviver com o outro é, por essência, difícil. Sempre haverá diferenças, e a ausência de conflitos pode indicar uma relação utilitária, onde se tolera em silêncio em troca de benefícios.
Em tempos de ghosting e liquidez relacional, muitas vezes parecemos vagar em um vazio. Buscamos, em aplicativos, pessoas que preencham nossas carências, como se estivéssemos diante de um cardápio virtual. O ato de se relacionar se torna raso e irresponsável; se nos cansamos, basta bloquear. A superficialidade se torna a norma, enquanto a verdadeira conexão humana exige tempo, disposição, renúncia e tolerância.
Relacionar-se é uma arte que requer habilidades que, lamentavelmente, estão se perdendo em meio ao narcisismo crescente. Em um mundo de “piscinas de plástico”, é desafiador para aqueles que ainda buscam profundidade em suas interações. Ser um mar profundo, intenso e complexo é difícil quando prevalece a adoração ao superficial e ao prazer imediato. O amor verdadeiro, em sua essência, também envolve desprazer e a capacidade de lidar com as diferenças. Se não formos capazes disso, corremos o risco de nos tornarmos eternamente solitários, relacionando-nos apenas com projeções de algo que nunca encontraremos a não ser que estejamos dispostos a buscar a verdadeira conexão humana — o encontro de almas, com todas as suas imperfeições.
O amor, em sua forma mais pura, é desafiador, mas é, acima de tudo, uma jornada que vale a pena.