E o gigante, calou-se?

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Yasmin Giro

Por Yasmim Giro

 

A pergunta que mais ouço em minha “bolha” social é: “por que os brasileiros assistem bestializados aos acontecimentos políticos que estamos vivenciando e nada fazem?”. Como historiadora que preza pela cientificidade, reconheço a dificuldade em se analisar o período enquanto o vivencia. Até os dias atuais, descobre-se coisas novas sobre a Idade Média, por exemplo. A história constitui-se de teses e antíteses, baseadas em evidencias e talvez só iremos compreender este “balaio de gato” daqui uns anos, ou décadas, através de ajuda das ciências complementares.

Mas como não tentar entender o que vem acontecendo em nossa sociedade, em um dos períodos mais caóticos dos últimos cem anos? Principalmente quando o grito do “O Gigante Acordou”, de um passado não tão distante, ainda ecoa em nossas mentes?

Tomei nota de algumas ideias que passaram em minha mente. O primeiro ponto, refere-se ao que Silvio Almeida muito bem descreve em seu livro “Racismo estrutural”. O Brasil, enquanto Estado, tem o racismo como um projeto político, que se reflete em outras instituições sociais, na medida em que não se posicionam criticamente, como a família, a escola, a igreja e outras associações. O genocídio da população negra e pobre é cotidiano, é rotina para nós. Se noticiadas essas mortes, logo são transformadas em estatísticas e esquecidas. Propositalmente esquecidas. Como não citar o caso do assassinato político da vereadora Marielle Franco, que até hoje, depois de 3 anos, continua sem solução? Marielle que ocupava um cargo de representatividade dentro de uma casa legislativa, eleita pelo povo, foi silenciada. Uma morte pedagógica. Segundo dados da ONG Instituto Polis “Homens negros são os que mais morrem pela covid-19 no país: são 250 óbitos pela doença a cada 100 mil habitantes. Entre os brancos, são 157 mortes a cada 100 mil”. A morte de pessoas pretas se faz presente no dia a dia, então porque faria diferença na pandemia? A própria lógica do sistema os coloca como corpos descartáveis e da sociedade recebemos silencio e indiferença.

O segundo ponto, refere-se às jornadas de junho de 2013, onde pudemos ouvir a indignação do tal gigante, motivada pelo aumento de 0,20 centavos na tarifa do transporte público. As jornadas trouxeram diversos movimentos sociais e políticos que as cooptaram. A partir desse ponto notamos uma mudança, seja pelo asco da tal “velha política”, seja pelo crescente aumento dos grupos conservadores, que muito bem fizeram a captura do “verde e amarelo” em oposição ao “vermelho comunista”. Era a onda perfeita. O palco estava montado e já se sabia quem era o partido vilão. Para além dos grandes personagens que ditavam as regras e o rumo da narrativa, o cidadão eleitor comum fez uma aposta, e apostou tudo nas eleições de 2018, impulsionado por essa onda. Foi uma disputa de paixões e de ego.

Como se admitir que o ego levou à escolha errada? Preços dos alimentos absurdos, preço da gasolina nas alturas, falta de um plano coordenado de combate à pandemia, falta de governante, negacionismo, fim da lava jato, escândalos de corrupção… Mas para tudo tem-se uma desculpa, menos para a marca assustadora de quase 240 mil mortes (até agora e contando). Aí que vem o ponto chave, a cereja do bolo: o governo brasileiro se ausentou e ainda se ausenta da responsabilidade coletiva. Quem se lembra da famosa e lamentável frase “Não sou coveiro”. Individualizou a culpa através de discursos como “se você virar jacaré o problema é de você”. O eleitor que apostou tudo, jogou fora também sua voz para fazer críticas, e quando as faz, se vê também silenciado pelo governo que utiliza a lei de segurança nacional ao seu bel prazer. O atual governo governa através do medo e a administração desse medo vem causando ao Brasil e ao povo brasileiro consequências incalculáveis.

É claro que apenas esses dois pontos levantados, e possivelmente refutados ou complementados no futuro, sozinhos não dão conta da complexidade de todo o contexto. Diante da inercia das instituições democráticas, só nos resta refletir e contribuir para uma mudança significativa, de preferência no Palácio do Planalto. A ausência de ação efetiva diante de um dos momentos mais difíceis demonstra o modus operandi escolhido. Para além disso, o descredito pretendido à imprensa, à ciência, à educação e ao próprio vírus, acendem um alerta naqueles que ainda acreditam e lutam a favor de um país seguro e democrático.

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