A emoção está constantemente aflorada durante os trabalhos dos profissionais de saúde para salvar vidas ameaçadas pela Covid-19. Imagina quando um enfermeiro cuida da própria mãe internada em estado grave? Foi o que aconteceu em Cachoeiro de Itapemirim, na Unidade Provisória de Tratamento da Covid-19, do Hospital Materno Infantil (Hifa), no bairro Aquidaban. Ela teve alta na última semana.
O enfermeiro Ercílio Felix das Neves Neto fez parte da equipe que cuidou de sua mãe Tânia Aparecida Fernandes, de 50 anos. Ela ficou internada em estado grave na UTI por 23 dias.
“Foi muito especial fazer parte desta equipe, estar perto da minha mãe, pois me sentia confortado vendo tudo que estava sendo feito com ela. Por mais que ela estivesse em situação grave, ninguém media esforços para salvar a vida dela. Em todo momento, eu estava ali por perto, auxiliando, ajudando. Isso, dentro do limite, porque trabalhar com familiar não é como com outro paciente; envolve muito sentimento, emoção”, relatou o profissional.
Quando Tânia Aparecida precisou ser intubada, o filho não participou a pedido da equipe. Nos dias seguintes, quando não estava de plantão, recebia o boletim detalhado do quadro de saúde da mãe. “Não escondiam nada, inclusive em dias graves. Confortavam, davam apoio, dizia que tudo ia dar certo”.
E quando estava de plantão, também tinha atenção. “Abraçavam-me, diziam para eu ficar firme e que tudo ia dar certo”. Na última semana, Ercílio Felix, que não participou da intubação, foi surpreendido pela médica enquanto trabalhava.
“Eu estava pelo corredor, na correria do dia a dia, atendendo os pacientes, e a dr. Marina me gritou. Naquele momento, eu levei um susto. Para me chamar, poderia estar acontecendo algo errado; ela estava no quarto da minha mãe. Cheguei lá e ela estava com o olho aberto, pronto para ser extubada”. E teve mais surpresa.
“A médica disse: “faz a honra, aproveite esse momento de felicidade, pode tirar o tubo dela”. Senti uma leveza no corpo, sentimento que não tem explicação, paz no coração – sabendo que Deus estava no controle o tempo todo”, desabafou.
“Primeiramente, tenho que agradecer a Deus pela força que Ele deu e a equipe que Ele preparou para cuidar da minha mãe; por cada passo que a gente deu nessa batalha. Agradecer muito ao Hifa, toda equipe médica, de fisioterapia, enfermagem: que carinho, que cuidado, que amor, que humanização em cada toque”, expôs.
“Não tem explicação o que eu vivi”
O enfermeiro Ercílio se sensibilizou também com o apoio recebido pelos colegas profissionais de saúde. “Não tem explicação o que eu vivi neste período. Nunca vivi com nenhum outro paciente, acho que talvez nunca vou viver. Como fui bem tratado, tanto apoio de pessoas que não me conheciam; começaram a me conhecer há poucos meses. Deram-me ombro para chorar, tudo o que foi necessário, principalmente a vida da minha mãe de volta”, contou.
“Tenho orgulho de fazer parte, de realizar um trabalho bem feito, restabelecendo vidas e entregando pessoas para as famílias, para aqueles que amam e que sonham com a pessoa em casa novamente. Foi o que aconteceu comigo”.