Estou em atraso com a coluna porque não me vinham temas impessoais para discorrer aqui. Esperei… não vieram. Parei para ver o noticiário todos os dias, a fim de conseguir ter uma ideia e hoje quando analisei percebi que todos os dias, em todos os jornais, houve uma matéria sobre a desigualdade de gêneros, o machismo, a discriminação das mulheres e o feminicídio.
A cereja do bolo foi uma matéria que tratou a respeito de uma discussão realizada no Conselho Nacional de Justiça em que vi mulheres, classificadas pelo repórter como “poderosas” falando sobre os desafios da igualdade de gênero no setor público e no país.
Quem eram as mulheres? Carmem Lúcia, Raquel Dodge, Rosa Weber, Laurita Vaz e Grace Mendonça, ali discutindo o espaço ocupado pelas mulheres nos órgãos públicos e as distorções entre o fato de sermos a maioria e ainda assim estarmos abordando temas como respeito, igualdade de direitos e liberdades, violência e injúrias dos mais diversos tipos.
Fui atrás de episódios que envolvem esse pacote perfeito que é a desigualdade de gêneros (machismo, desrespeito, assédio, etc.) e o que ele proporciona e fiquei impressionada como em pouco tempo tinha tanta coisa pra escrever aqui! É acontece… e muito!
Acontece de você passar num concurso público e ainda assim te submeterem à uma “entrevista de emprego” com perguntas do tipo se você é casada, se tem filhos, se tiver, quem vai cuidar deles já que você quer trabalhar, afinal de contas, o pai não deve ser considerado nesse caso;
Acontece também de você ser a única mulher da sua sala, ocupante de um cargo técnico, seu chefe simplesmente ignorar isso e te pedir para arrumar as gavetas e armários, porque “mulheres tem jeito pra isso”;
Acontece também de você ir participar de uma audiência pública e um agente governamental te pedir “um café, morena”;
Acontece também de você estar na sala do seu chefe e ele simplesmente levantar e usar o banheiro com a porta aberta;
Acontece de nunca saberem seu nome, porque te chamam de menina, moça, querida, minha linda;
Acontece de quando você se posiciona de maneira mais incisiva porque já viu que com maciez não irão te ouvir, você é brava, está de TPM ou não está com a vida sexual em dia;
Acontece de quando você não faz errado ou pela metade, te chamarem de legalista, porque dá pra afrouxar, você que é jogo duro e é por isso que está solteira;
Ah, acontece também de quando uma situação é difícil colocarem você pra falar, afinal “você tem seu jeitinho”;
Acontece de você ter ido despachar com seu chefe e sair da sala chorando porque ele não controla os comentários quando fica sozinho com você;
Acontece que quando você atinge determinada posição foi porque você tem um caso com seu chefe, não porque você é a pessoal ideal para aquele cargo.
Mas sabe por que eu disse que gosto?
Porque toda essa estupidez causou e vem causando um movimento desenfreado de mulheres que buscam na raça a sua posição, o seu espaço e que tem influenciado uma massa gigantesca de pessoas contra o machismo e a desigualdade de gêneros. E esse movimento vem deixando até a mais resignada das mulheres potencialmente corajosa, porque ela sabe que agora está envolvida numa onda crescente de sororidade. E digo que isso é o que hoje permeia meu ambiente de trabalho, onde a maioria das lideranças é feminina, assim como a força de trabalho também.
Espero que chegue o dia em que mulheres sejam consideradas tanto quanto os homens nos processos de escolha dos gestores, obviamente não por serem mulheres, e isso servir de plataforma para atrair simpatizantes, mas por terem a oportunidade de mostrar com mais facilidade sua total capacidade em relação ao trabalho.
Enfim, só sei que quem teve a ideia de propagar o pensamento que mulheres são menos, e que são capazes de menos no trabalho deveria repensar, porque está começando a dar errado.