Antes de começar, uma observação: a coluna de hoje está escrita de forma totalmente pessoal, logo contém aspas, gírias e um desabafo. Tá bem? Então tá bem!
Três colunas atrás escrevi sobre as inseguranças de nós, agentes fiscalizadores, quando vemos tragédias como a que aconteceu em Brumadinho. Me manifestei sobre o pensamento que vem à nossa cabeça, do tipo: “será que tô deixando passar alguma coisa?” Pois bem, essa semana tive uma experiência no mínimo curiosa.
Sempre falo em relação à importância do controle social, da participação popular, da interação entre poder público e a população. Comemorei quando fomos ao encontro de uma comunidade a convite da Igreja local para falarmos sobre políticas públicas e os deveres dos usuários. Antes de preparar a apresentação, estive no local, estudei a situação sob a qual iria falar e pensei: “nossa, tenho boas coisas pra mostrar sobre este local, o trabalho fluiu por aqui, tá massa!”
Mas, não foi bem assim. Do meio para o final a sensação que tive era que eu estava de frente para um corredor polonês, e que eu não tinha o que fazer a não ser colocar as mãos empunhadas sobre a cabeça e atravessá-lo. Suei… muito, pra caraca!
Vi como a população está com sede de ser ouvida e sobretudo respeitada. Como as pessoas ficam desacreditadas porque alguém em algum momento resolveu prometer coisas que não tinha a menor condição de cumprir e como o poder público será cada vez mais demandado. Zona de conforto? Não existe! Por um instante pensei: “putz, por mais que façamos, nunca vai tá bom”.
Em questão de minutos tudo que eu havia levado como resultado positivo para aquele local não fazia a menor diferença pra quem é morador de lá. Fui metralhada com perguntas, para as quais todas eu tinha respostas, mas que para eles não eram suficientes.
Voltei com a cabeça à mil pensando em como não vi aquilo antes, como fui capaz de pensar por um instante que estava tudo bem, sob controle, sendo que pra quem está lá todo dia, não é bem assim. Olhei em volta, vi umas caras de decepção, as pessoas sacudindo a cabeça em sinal negativo e me enxerguei como um belo pote de sorvete com feijão dentro. Não era nada daquilo que eles queriam.
Ao mesmo tempo racionalizei: “ei, o trabalho é duro, está sendo feito, mas é extenso e caro. Não dá pra resolver tudo de uma vez, porque tem lá e tem todo o resto do Município. Também não dá pra desistir. Pensa”. Pois bem, levei resultados, voltei com mais trabalho! Provavelmente terei que começar do zero, olhar tudo de novo e em detalhes.
Esquecer dos números, do computador e do papel. Não ficar presa apenas ao que chega pelo legislativo, pelos líderes das comunidades, ou pela equipe; terei que ir lá de casa em casa, negar uns cafezinhos, talvez dizer não para as ofertas tentadoras como: “tem tal fruta no pé, quer levar uma sacolinha? E fazê-los entender que não posso receber agradinhos durante o exercício da função porque é imoral. Pode ser que eles queiram jogar as frutas em mim também, afinal de contas me pareceram pouco satisfeitos com meu trabalho, é um risco. Mas terei que ouvir o que é que está acontecendo sob o ponto de vista de cada um.
Certamente ainda assim alguma coisa vai ficar pra trás, vai passar, não conseguirei ver ou resolver, mas não pode ser o óbvio.
Volto ao pensamento inicial… a participação popular, o contato com os usuários tem que ser contínuo e dinâmico. Tem um monte de gente querendo um monte de coisa!
“Ah, mas vamos ficar apanhando todo dia?” Se for o único jeito, fazer o que?
Olha pro corredor à sua frente, mira o ponto final, fixa o olhar, estabeleça o foco, contraia o abdome, se concentre, atravesse. Resolva este, daqui a dois passos terá outro. Com gente criticando, entrave de lei, burocracia, negociação…
Olha pro corredor à sua frente, mira o ponto final, fixa o olhar, estabeleça o foco, contraia o abdome, se concentre, atravesse. Resolva!
Ah, sobre o encontro com a comunidade? Foi massa!