Festa de Cachoeiro

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A gana, a garra de Newton Braga para acertar dia, mês e ano em que a Festa de Cachoeiro seria realizada e como faria para que os festejos fossem um sucesso eram de uma sensibilidade fora do seu estado físico. Era de uma força inimaginável. Cachoeirense convicto, lutou e conseguiu para que a nossa Cachoeiro tivesse uma festa que passou a ser copiada por quase toda a região do estado. Confira abaixo a publicação de Deusdedit Batista no jornal.

Dia de Cachoeiro

Em O Livro, pequeno jornal de propaganda da Livraria e Papelaria L. Machado, publiquei, em 11 de março deste ano (1938), uma croniqueta que destaco os trechos abaixo:

“Volta-me à lembrança uma velha idéia que hei de ver coisa feita, um dia.  É juntar aqui todos os cachoeirenses ausentes.  Depende tudo de publicidade e organização”.

Tem poucas cidades no Brasil de um cabotinismo tão bom como o de Cachoeiro. Você esbarra com um Cachoeirense fora daqui: o bicho é todo saudade, é todo exaltação à cidadezinha distante.

-não há, meu caro, tou doido prá voltar pra lá.

Ataca um estranho qualquer, que não tem nada com isso, extravasando-se num hino de louvores à terra querida, que carregou inteirinha dentro do coração.

Minha vontade velha é juntar esse povo todo, aqui. Faríamos, todos os anos, o Dia de Cachoeiro.

Passagens e hotéis com abatimento, grande programa de festas: cívicas, esportivas, musicais, intelectuais e dançantes.

A cidade toda recebendo, afetivamente, os filhos distantes: a grande família reunida. Terceiro ano em diante a romaria se processaria como tradição.  Férias de serviços e economias seriam reservadas para a visita à terra natal nessa mesma data. O jornal é pequeno prá dizer o que caberia de bom na iniciativa. E nem é preciso dizer, tão bonita me parece ela , e tão eficiente, sob todos os pontos de vista.

Vamos realiza-la em 1939?

Eu acabava, como vêm, com uma pergunta que era um convite. Volto agora ao assunto, para levar a iniciativa para adiante. Faremos, de fato, pela primeira vez, em 1939, o Dia de Cachoeiro.

Pensara, antes, em realiza-lo no dia 25 de março, data da criação da comarca.  Considerações posteriores, porém, induziram-me a promovê-lo em 29 de junho, dia dedicado a São Pedro, padroeiro da cidade.

Março é beira de carnaval e as finanças andarão convalescentes. Em São Pedro já temos uma considerável afluência de pessoas e é tempo de férias colegiais e acadêmicas.  Vamos fazer, assim, o Dia de Cachoeiro, em 29 de junho. Convoco todos os Cachoeirenses para que deem palpites e mandem sugestões sobre o assunto.

Assim Cachoeirense amigo, espero sua palavra, de onde estiver.

N.B. Correio do sul, 19.11.1938.

 

                         Recepção

Meu amigo de país distante, meu irmão de qualquer pedaço do Brasil – eu te apresento Cachoeiro de Itapemirim.

Vê esse rio contente e tagarela.  Ele embalará o teu sono e te confortará nos momentos de descanso com uma toada que aprendeu há muitos séculos, mas que será sempre nova, se tu souberes ouvi-la.

Olha as chaminés destas fábricas, ouve o ruído destas máquinas: a gente que as anima é mansa e boa, sem ódio, nem prevenções, nem desesperanças. Atenta nos apitos destes trens, nas carretas que transportam toras de madeiras.  O povo de minha terra sabe trabalhar.

Repara nas centenas de crianças que se movimentam à porta das escolas: elas têm orgulho de sua terra e desejam ser dignas delas.

Aqui não há ressentimentos políticos, não há ódios de família, não há prevenções contra o que vem de fora.

Mas ah! Meu amigo estrangeiro, meu irmão brasileiro, se não tens intenção de ficar, se queres voltar para sua terra ou se te diriges a outro ponto, não olhes nunca os olhos das mulheres de minha cidade, não lhes queiras ver a beleza, porque então tu ficarás, tu não mais poderás partir, meu amigo estrangeiro, meu irmão brasileiro”.

Fonte:

Newton Braga, Cachoeirense ausente.

Raquel Braga, Marília Braga, Edson Braga

 

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