Por Gabi Prado
Do ponto de vista da antropologia, cultura é o conjunto de saberes, costumes, hábitos, crenças e manifestações artísticas de um povo. Desse modo, a cultura caracteriza fatores como identidade e determina as interações sociais decorrentes de uma comunidade. Podemos compreender, de maneira ampla, que todos os nossos jeitos, trejeitos, falas, andados são fortemente atravessados pelo aspecto cultural e que dele provém a maneira como nos sentimentos e nos posicionamos em relação ao outro.
Nós sabemos que no espaço virtualizado das redes sociais não há outro caminho senão o da interação. São as interações que determinam a dinâmica dos relacionamentos, bem como das informações que surgirão e se propagarão na internet. Um fato curioso e quem tem gerado muitas discussões a respeito da maneira como determinados usuários se comportam nesses espaços é a chamada cultura do cancelamento.
Cultura do cancelamento é a manifestação contrária ao posicionamento de uma personalidade expressiva dentro daquele espaço que o leva a uma espécie de “banimento” social. Até então, discordar de alguém que possui uma perspectiva diferente a respeito de um mesmo assunto é saudável, quando pensamos na construção de debates que elucidam novas ideias. Porém, tais manifestações se converteram em verdadeiros linchamentos virtuais e o perigo reside, justamente, na intolerância do tratamento com o outro.
Obviamente, algumas atitudes são passíveis de questionamentos e condenação, como nos casos que envolvem racismo, homofobia e outras formas de discriminação. Entretanto, gostaria de chamar a atenção para as ocorrências que responsabilizam pessoas simplesmente pelo prazer de punir e fazer uma justiça social que não respeita a integridade e a real participação do alvo de críticas nas situações levantadas. Um exemplo desse cenário é a cantora Luísa Sonza, vítima de ataques recorrentes e desenfreados.
Muitos afirmam que a internet se tornou “terra de ninguém” e, se considerarmos todos os incisivos julgamentos virtuais que marcam os últimos tempos, poderemos visualizar o sentimento de poder que habita no interior daquele que se sente confortável o suficiente para destilar ódio através de uma tela computadorizada sem se preocupar, minimamente, com as consequências de suas atitudes. A internet é um espaço efetivo de troca e manifestação do ser, mas não pode ser terra de ninguém.