Por Yasmim Giro
Pensar nossa existência politicamente não é uma tarefa fácil, principalmente se isso representar uma mudança na mentalidade social, no status quo. E pensar nossa existência é um exercício tão desafiador porque ele foi coercitivamente imposto a nós. A história da Modernidade, historicamente o período marcado pela formação dos Estados Nacionais Modernos, mais especificamente Portugal e Espanha, conta sobre os novos contornos da América Latina, enquanto colônia de exploração, tanto de recursos, quanto das mentalidades. Isso indica que é impossível pensar a modernidade sem pensar nesses modelos de exploração.
Quando falamos de Brasil, impregnou-se a ideia de que essa terra foi “descoberta” e que a civilização veio até nós, desqualificando as formas de organizações sociais existentes. Quando o europeu impõe suas instituições aos povos tradicionais que aqui viviam, um novo sistema de identificação das identidades se impõe. A identidade estabelecida aos povos tradicionais, era a identidade da diferença, como referência o homem branco cisgênero hétero e cristão, ou seja, se os povos daqui não possuíam essas características, a humanidade deles era desconsiderada, eram considerados animais e animais podem ser explorados. A normatização da conduta passa a ser empregada. O que pode e o que é considerado desviante. Sexualidades desviantes, cultos desviantes. Muda-se a estrutura coletiva em que os povos tradicionais viviam.
Não se reconhecia gênero nas mulheres pretas e indígenas. “Mulher” apenas eram consideradas as burguesas europeias, que tinham um papel social bem definido: submissão e trabalhos domésticos. A classificação dos dominados era feita por base no dimorfismo sexual. Macho e fêmea. Um meio de enriquecimento aos dominadores, mão de obra e reprodução.
Essas classificações ainda sobrevivem mesmo em meio à racionalidade das instituições contemporâneas. O número de feminicídios, os casos de LGBTfobia, principalmente quanto às mortes da população trans e travesti, os casos de violência obstétrica para com as mulheres pretas, baseado apenas na falácia de que mulheres pretas aguentam mais dor, além genocídio da população preta. Tudo isso é fruto desse sistema moderno que ainda perdura na nossa sociedade.
Pensar nossa existência é um ato político, um ato, acima de tudo, de resistência. O que significa ser o que você é nessa sociedade?