É triste. E assim o é pela dificuldade de revolucionar a realidade ao ponto de substituir o desânimo por um horizonte que nos empolgue. Mesmo com a energia frenética de torcidas aqui e acolá, está claro que em mais uma eleição presidencial tudo está distante há anos-luz daquilo que todos os brasileiros desejam.
E, diante deste quadro, a classe política é a responsabilizada pelas mazelas cruéis e desumanas causadas à população. Sem dúvida, esta categoria – por conta de alguns que têm seus atos corruptos reverberados e consumados – faz por merecer. Por outro lado, se analisarmos bem, cabe uma reflexão: a ‘classe política’ tem fronteiras?
Observando a ‘engenharia’ dos três poderes, é fácil perceber, por alto, o seguinte: o Legislativo depende da ‘boa vontade’ do Executivo para a manutenção do mandato e ‘ajuda’ para ser ‘ajudado’; logo, o Executivo volta a ser refém do Legislativo e cede aos acordos de alta periculosidade para ter governabilidade; a cúpula do Judiciário é formada pela indicação desses dois poderes. E, no final das contas, a viagem ao ‘céu’ e ao ‘inferno’ é determinada a partir do ‘martelo’ da Justiça.
Com isso, há o risco de surgir a impressão de que os três poderes são dependentes e ‘barganham’ entre si. De modo genérico, há forte indício de que vigora no Brasil um sistema que jamais desfaçará as amarras que impedem a ampla dignidade do povo. Um ‘esquema’ orquestrado para manter as regalias de uma ‘turma’ e sufocar o crescimento da maioria.
Considero pertinente acreditar que a ‘demonização’ da política, unicamente pela politicagem, acontece pelo depósito direto da confiança por parte do eleitor aos políticos através do voto. Ou seja, é a recíproca oportunizada pela democracia.
Já esta relação se difere diante do Judiciário. Estes são vistos como espécie de semideuses, cuja vaidade preservou na aparência a nobreza da monarquia (e a estabilidade vitalícia), além de estarem no outro extremo da injusta divisão de renda, ampliando seus tetos salariais e regalias – alegando merecimento em detrimento dos demais. São estes que fazem a justiça no Brasil, com exemplo de status paradoxal; sem contar que a base, originada de um pacto com a nação, é uma Constituição esquartejada pela lâmina dos interesses pessoais.
Enquanto bons nomes forem inseridos na política a conta gota, nada de novo será implantado pela simples ausência de musculatura para destruir esta máquina maligna que tritura sonhos e produz, em larga escala, no pior dos casos, a marginalidade.