O fenômeno dos “outsiders”

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Yasmin Giro

Há tempos uma frase me deixa, no mínimo, intrigada. A frase que culpabiliza a esquerda, em sua amplitude e magnitude, principalmente os movimentos sociais em sua diversidade, de ter provocado o fenômeno do bolsonarismo, e acredito que muitos também já a ouviram: “a esquerda cirandeira dá palco pra esse cara”.

No Brasil, há um fenômeno cíclico que cria personalidades políticas que se destacam por serem “outsiders”, vide Collor. Este indivíduo, diz-se ser um elemento fora da política, sem raízes no establishment e por este motivo, revolucionaria o Estado, por não ter “rabo preso” com ninguém. Essa narrativa sempre foi empreendida no Brasil e pasmem, sempre funcionou! Pelo menos por algum tempo… Pois essa persona fora da política rapidamente se enquadrava nas vicissitudes do presidencialismo.

Há um recalque das classes sociais brasileiras que conseguiram certa segurança econômica providenciada por uma política de bem estar social promovida pelos governos do Partidos dos Trabalhadores (PT). Essa classe não cria uma consciência de que mesmo ganhando sete mil reais ao mês não é detentora dos meios de produção, ao contrário, ainda precisa vender sua força de trabalho, assim como outro indivíduo que ganha mil reais por mês. A classe média brasileira quer se enxergar como Elite, mas não passa de nada além de ser o patinho feio e massa de manobra dos grandes.

Essa classe paga colégios particulares, troca de carro com certa frequência (não mais, principalmente com o preço da gasolina de agora) e que compra (comprava, pois com o preço do dólar…) iphones para todos os membros da família, sente-se pessoalmente atingida quando o filho da costureira entra em uma Universidade Pública, através de cotas. Sente-se pessoalmente atingida quando programas como o Bolsa Família ajudam o Brasil a superar o quadro de extrema pobreza. Pregam a meritocracia e a corrupção é elencado como o segundo maior problema do país, sendo o primeiro o caos da segurança pública que não os protege de ter seus celulares furtados e é benevolente com “vagabundos” e movimentos sociais que “invadem terras” e que querem ocupar seu apartamento de 250 mil reais.

Eis que o “outsider” chega com a solução inédita de todos seus problemas, com certo carisma e frases de efeito. Bolsonaro, vende-se como este fenômeno cíclico, comendo pão com leite condensado (15,6 milhões de custo ao brasileiro), fazendo sua incapacidade virar humildade. “Pretendo acabar com a “mamata” dos movimentos sociais”, exclamava o deputado que nada fez em três décadas. Respostas simplórias, sem qualquer análise de conjectura, para questões complexas. Dizia “vou mudar isso aí!”. Mudou: pra pior! Mas a classe média adorou.

Bolsonaro se fez fenômeno em meio a uma onda perfeita, que discutimos em outro texto. Sua candidatura já estava posta. Ele conseguiu abrir diálogo com os recalcados sociais e intelectuais. Quando diz que vai acabar com a corrupção, sem qualquer método, agrada. E acabou mesmo, mas foi com os dados sobre a corrupção e o mecanismo de coibi-la, adeus lava jato. É de muita desonestidade dizer que os movimentos sociais sozinhos foram culpados pela eleição do Bolsonaro, ou até mesmo o Partido dos Trabalhadores ao se colocar em uma candidatura. O jogo já estava ganho pro Bolsonaro, e perdido pra nós.

Como um agente do caos, que pretende descredibilizar a democracia e dar voz aos crápulas que defendem a ditadura, ataca tudo e todos. Os movimentos ao se defenderem das mentiras, são novamente atacados, pois, “se respondem, dão ainda mais palco a ele”. Então qual a resposta? Calar, perante a tentativa de descredibilizar lutas e vivências? Eu defendo que falemos e lutemos. O Bolsonarismo pode ser cíclico, mas a democracia não pode ser!

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