Por Tatiana Pirovani
Ao ser convidada para retornar a escrever, perguntei qual seria o tema. Leandro disse que pensava em deixar livre, para que me sentisse a vontade.
Veio o problema: a liberdade.
Fritei os miolos pensando em como delimitar um tema, justamente por ter a liberdade para tratar do que quisesse. Podendo fazer tudo, passei horas divagando pelas ideias.
É incrível como uma das coisas que mais prezamos, também pode trazer uma grande dificuldade!
Toda essa ponderação me levou à uma reflexão maior…
Como cada um de nós vem desfrutando do seu direito à liberdade individual, em um cenário que já matou no Brasil, o equivalente à população de uma Cachoeiro inteira?
Ao menor sinal de relaxamento das medidas restritivas, perdemos o medo de morrer. De repente, aquilo que não sentíamos a menor falta em tempos comuns, se tornou algo extremamente essencial. Entrar numa fila gigante para aproveitar a promoção da loja de utensílios domésticos, correr na praia, fazer trilha, subir todos os cumes que cercam a cidade, ir ao supermercado mais de uma vez na semana… enlouquecemos!
Apelidamos de “novo normal” ao que tem me parecido cada um viver à sua maneira, assistindo às estatísticas da doença a noite no jornal, para saber como finalizamos mais um dia. Tudo aparenta ser válido, desde que, tenhamos álcool em gel sempre à mão.
Até que ponto somos realmente livres? Será que não estamos cada vez mais escravizados pelos nossos costumes, pelo nosso lazer, pela nossa satisfação pessoal?
Simplesmente não conseguimos nos adequar à novas rotinas, abdicando de alguns hábitos totalmente dispensáveis, a fim de participarmos do restabelecimento da saúde coletiva como agentes ativos na implementação de uma política pública para combate à pandemia, independente do julgamento do quanto ela seja boa ou ruim.
Abrimos mão do nosso dever como cidadãos, de sermos promotores do bem-estar comum. Ao mesmo tempo, criticamos a intervenção do poder público em diversas situações. Porém, se não há restrição oficial contra aglomerações, aliada à fiscalização, não fazemos a nossa parte espontaneamente.
Assim, nos posicionamos como uma sociedade dependente da mão forte do Estado, nos submetemos à necessidade de uma atuação comando – controle… colocamos nosso próprio cabresto.
Liberdade significa ter autonomia para fazer nossas próprias escolhas. Ser livre envolve responsabilidade, e isso diz muito sobre nós.