Dos três mandatos de governador, sem dúvida este é o mais conflituoso que Paulo Hartung (PMDB) vive. Avaliação popular preocupante, crise na arrecadação, na segurança pública e, agora, a inclusão de seu nome na lista de investigados da operação Lava Jato.
A impressão que dá é de que Hartung não teve tempo nem para respirar entre um problema e outro, muito menos para se reerguer. Sem contar o drama pessoal em torno da luta contra o câncer.
Para quem o acompanha e sabe de sua habilidade quando o assunto é estratégia, suspeita que o governador é capaz de planejar até o seu momento de baixa para dar mais brilho à volta por cima. E era o que, provavelmente, tinha programado antes de massificar o discurso do contingenciamento de recursos.
Porém, o destino não lhe foi tão carinhoso e solidário como nos outros dois mandatos, quando engatou uma projeção política/administrativa fantástica ao receber, antecipadamente, recursos dos royalties de petróleo do governo federal e tirar o estado da falência.
O início deste terceiro mandato foi marcado pelos ataques ao antecessor Renato Casagrande (PSB), a quem tentou cunhar a autoria de um desastre nas finanças do governo. Se havia ou não a herança maldita, a verdade é que já não tinha mais como voltar atrás no discurso e nem adotar ações desalinhadas com o cenário narrado.
A população, de um modo geral, quer resultados das administrações públicas e, não havendo, cobra de quem está na cadeira, não de quem a deixou. Com isso, as tentativas de Hartung perderam o sentido e gritaram o tempo perdido: ele teve que ficar de fora das eleições municipais por não ter o peso de outrora na decisão do eleitor.
O peemedebista começou a investir pesado no fortalecimento de sua imagem no cenário nacional, sendo cotado como presidenciável nas fileiras do partido. Daí, surge a ‘greve’ da Polícia Militar. Fora do estado, Hartung soube administrar o impacto; dentro, nem tanto. Diante das ‘armas’, mas em processo demorado, oneroso e sangrento para a sociedade, soube desnutrir o movimento ao ‘sacar’ a caneta.
Retornando a escalada para o cenário nacional, cai-lhe à cabeça uma pedra: é denunciado na Lava Jato, em delação premiada, de receber R$ 1 milhão de caixa 2 para financiar campanhas de aliados. A situação lhe foge à governabilidade. E para quem não dá um passo sem antes consultar os números, Hartung sente a apreensão de não saber o que ocorrerá a cada curva.
O destino lhe deu um desconto: o poupou da artilharia da oposição. Afinal, Casagrande e a família Ferraço (Ricardo também está na lista, assim como Renato) não estão em condições de apontar o dedo. O ataque ficará por conta de quem surgir.