Política não se discute, se canta…

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Tatiana

Por Tatiana Pirovani

 

Hoje, 22 de abril é dia da Terra. O que me trouxe à lembrança um dos depoimentos de Caetano Veloso, no documentário Narciso em Férias, em que ele relatou ter recebido uma revista que noticiava sobre a Missão Apollo 8, responsável pela primeira viagem do homem em torno da lua.

Na ocasião, Caetano estava preso, sob a acusação de ter parodiado o Hino Nacional, o que nunca foi provado; as fotos do nosso planeta, azul, passeando pelo espaço, emocionou o artista, que anos mais tarde, escreveu uma de suas mais bonitas canções – “Terra”, não se afastando, porém, das lembranças da prisão, afinal, eram tempos de ditadura.

Caetano fez (é) parte do Movimento Tropicalista, nascido aquém da Bossa Nova e da Jovem Guarda, movimentos que não representariam as ideias dos jovens brasileiros reais, pois eram compostos por pomposos almofadinhas do Leblon, ou modelos de Rei e Príncipe, como são conhecidos até hoje Roberto Carlos e Roni Von.

O Tropicalismo trazia consigo, além da inovação musical, uma filosofia libertária em plena Ditadura Militar, se estendendo à várias outros nichos artísticos, como a poesia, arquitetura e cinema, trazendo uma versão alternativa entre cultura e política, propondo que a arte se aproximasse de fato do povo e manifestasse ideias, o que mudou para sempre o lugar do artista no Brasil. Não era mais necessário um palanque político para falar da fome, da corrupção… bastava ouvir um vinil, frequentar o Circo Voador no Rio de Janeiro, para depois chegar ao movimento Diretas Já, composto por lideranças políticas e personalidades artísticas.

Por isso a censura se fazia tão necessária; talvez para alguns se faça até hoje. Afinal, nada melhor que o silêncio para manter o autoritarismo no poder, né não!?

Se nos anos 60 a arte deu voz ao povo, agora no século XXI o povo dá voz à arte. As manifestações de artistas relacionadas ao nosso momento político podem ser consideradas cada vez mais densas. Quem imaginaria por exemplo, que a Rede Globo teria coragem de romper com Regina Duarte, a namoradinha do Brasil, ou então que artistas do humor estariam tratando a política de modo cada vez mais sério?

O Lollapalooza, que concebeu Plablo Vittar correndo em meio ao público, empunhando uma bandeira com o rosto de um dos principais opositores do Governo atual e gritando “Fora Bolsonaro”, o que gerou uma movimentação em prol da proibição de manifestações políticas num evento privado, amplamente criticada até o último dia do Festival, gerando um efeito completamente inverso, com novo nome – o “Lullapalooza”.

Menciono ainda o empenho da classe artística para que adolescentes de 15 a 17 anos, faixa etária para a qual o voto é facultativo – tirassem seu Título de Eleitor, a fim de participar ativamente das próximas eleições, o que fez com que os números crescessem de 199.667 títulos em fevereiro, para 290.783 em março – um acréscimo de 45%, assim do na-da, simplesmente porque nomes como Gabriela Prioli, Anitta, Paola Carosella, Juliette, Zeca Pagodinho, Whindersson Nunes, até Mark Ruffalo (sim o interprete do Incrível Hulk) sugeriram que seria importante.

Como sempre digo, toda manifestação artística requer mais que compreensão, requer interpretação. Veremos, por exemplo, quantas polêmicas surgirão após os desfiles das escolas de samba que estão acontecendo por agora… não sei se vocês sabem, mas a pandemia aconteceu depois que Jesus foi retratado pela rainha da bateria da Mangueira, em 2020…

Ainda que você não goste de determinado artista ou gênero artístico, fato é que não há como ignorar quão fundamental é o envolvimento artístico na educação, na cultura e também na política.

Finalizo como comecei:

“Quando eu me encontrava preso

Na cela de uma cadeia

Foi que eu vi pela primeira vez

As tais fotografias

Em que apareces inteira

Porém lá não estavas nua

E sim, coberta de nuvens…

Terra”.

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