Por Gabriela Fonseca
@psigabriela_fonseca
Expressões como “Homem não chora”, “Homem tem que ser forte”, “Homem deve cuidar da casa” e “Homem é o provedor” são comuns em nossa sociedade. É inegável que vivemos em um contexto marcado por valores machistas que impõem estigmas sobre o que significa ser homem.
Esses estigmas não afetam apenas as mulheres; os homens também são impactados de maneira significativa. Estatísticas indicam que, no Brasil, os homens representam a maior parte dos casos de suicídio, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatando que 78% dos casos são do sexo masculino. Isso levanta a hipótese de que os estigmas sociais, como a ideia de que “homem não chora” e não deve demonstrar emoções, podem estar relacionados a essa realidade preocupante.
Como seres humanos, somos tanto razão quanto emoção, e toda decisão e ação tem uma dimensão emocional. Desbalancear um desses aspectos pode afetar o outro, gerando consequências negativas para a saúde mental. Uma sociedade que ensina os homens a serem “fortes” em detrimento da expressão emocional contribui diretamente para a deterioração de sua saúde mental. Dados indicam que quase 70% dos homens buscam terapia apenas quando incentivados por esposas ou filhos, raramente por iniciativa própria (ref. https://psicologakarlacardozo.com.br/blog/saude-mental-masculina/). A persistência do estigma que associa a terapia a fraqueza ou loucura é um fator que agrava essa situação.
A pressão social que exige que os homens sejam sempre fortes e racionais muitas vezes desconsidera seus limites emocionais e psicológicos, levando a um reconhecimento insuficiente de seus esforços. As normas sociais que cercam a masculinidade frequentemente resultam em uma expectativa irrealista de que os homens devem se comportar de determinadas maneiras, muitas vezes à custa de sua saúde mental.
Ao observar o desenvolvimento infantil, é evidente que as características atribuídas aos meninos frequentemente estão relacionadas à força. Por exemplo, frases como “Nossa! Que forte você é!” são comuns, e a exposição a brinquedos como super-heróis, armas e veículos reforça essa narrativa. Em contraste, meninas são frequentemente elogiadas por sua beleza, sendo chamadas de “princesas” e recebendo brinquedos que enfatizam cuidados e relações emocionais, como bonecas e casinhas. Essa diferença de estímulo pode ter implicações significativas nas escolhas futuras de carreira e nas habilidades emocionais de crianças e adolescentes.
Atualmente, no Brasil, cerca de 90% dos estudantes em cursos relacionados aos cuidados (como enfermagem, medicina e psicologia) são mulheres, enquanto áreas não associadas a cuidados tendem a ser dominadas por homens. Essa disparidade evidencia uma falta de incentivo para que os homens explorem a dimensão afetiva e de cuidado, perpetuando a ideia de que o homem deve ser forte e suportar tudo. Esses tabus e estigmas machistas estão contribuindo para um cenário alarmante: a deterioração da saúde mental masculina.
Assim, é crucial promover uma reflexão sobre como estamos socializando meninos e meninas e reconsiderar os estigmas que cercam a masculinidade, a fim de criar um ambiente que favoreça a saúde emocional e mental de todos.