Qual legado a Câmara pretende deixar?

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Yasmin Giro

O mês de abril sempre foi meu mês favorito, não apenas por ser o mês do meu aniversário, mas também por nos oportunizar observar como uma narrativa pode ser pode ser empreendida com sucesso, como é o exemplo de Tiradentes, condenado pela monarquia e exaltado pela República. De Traidor à Herói nacional, com direito a similaridades com jesus e tudo mais.

Narrativas nos cercam por todos os lados e a Câmara de Cachoeiro de Itapemirim nunca decepciona (até porque não esperamos nada). O mais novo Projeto de Lei (25/2021) mostra a que veio. Deixando de lado o caráter inconstitucional do projeto, e, diga-se de passagem, que a Câmara vem se mostrando muito solicita quanto aos projetos inconstitucionais (talvez os vereadores queiram deixar isso como legado, na ausência de projetos que realmente beneficiem a população), notamos um forte apelo no discurso no corpo do PL, um apelo perigoso.

Quando uma bomba dessas chega até nós, ela já vem próxima da minutagem da explosão e a sensação que eu tenho é que nada, ou muito pouco pode ser feito. Explico: o PL proposto pelo vereador “propõe a leitura bíblica nas escolas públicas e privadas no âmbito do município”, alegando ser uma forma de promover conhecimentos ao aluno. Mas essa nem é a pior parte, o que assusta mesmo vem na justificativa do projeto, pois, segundo o Vereador, teria por finalidade “resgatar os valores da família, respeito ao próximo”. O que não está escrito no corpo do texto é que mais chama atenção. É como se afirmasse que uma família que não é cristã não tivesse valores. É como se impusesse um padrão de religiosidade, sendo este o único que prega respeito ao próximo (triste é a pessoa que precisa de uma religião pra entender sobre respeito ao próximo) e se nos colocarmos contra esse projeto (momento em que a bomba estoura) alegam que somos contra Deus e contra a família, todo o discurso que bem conhecemos.

Com esse discurso, o apelo torna-se popular, “Como assim alguém é contra Deus?”, o projeto ganha força e o vereador popularidade. Cria-se a onda perfeita para as próximas eleições. Queria aqui poder afirmar que o projeto é irrelevante, afinal, haverão fiscais observando minhas aulas? Mas a verdade é que o discurso é uma ferramenta valiosa, criam-se heróis, presidentes, vilões…E eles sabem muito bem como utilizá-la. A pergunta é, o que nós podemos fazer? Toda vez que um Projeto de Lei é escrito dessa maneira, a sociedade perde como um todo. Perdemos o respeito à diversidade, o respeito à liberdade de crença e, principalmente, perde a democracia.

Eu queria, por último, propor um exercício mental. Imagine, que no lugar da bíblia e do cristianismo, estivesse outra religião, de matriz africana, por exemplo. Vocês acreditam que dessa maneira o projeto seria aprovado ou até mesmo escrito? Acho que todos já sabemos a resposta.

Se não pela sensatez, que os Vereadores utilizem a racionalidade a fim de vetar projetos como este, que, além de todo o absurdo apresentado, ainda é inconstitucional.

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