Por Yasmim Giro
A Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim se rendeu à lógica neoliberal que abarca baixos salários e diminuição de direitos aos seus trabalhadores. Mesmo detendo de uma grande receita, 142,7 milhões no primeiro quadrimestre de 2020, mesmo em pandemia uma grande arrecadação, personificou o corte de gastos nas figuras que compõe o maior quadro de funcionários da prefeitura: os servidores que sobrevivem de contratos temporários.
Esses funcionários sem voz não têm a quem recorrer e ninguém para ouvi-los. Se procurarmos suas garantias- ou a sua falta- ficamos boquiabertos. Durante a pandemia, período em que muitos perderam seus familiares, em decorrência do Covid-19, muitos não puderam ir aos velórios, quando autorizados pelas autoridades competentes, ou ter uma liberação do seu serviço a fim de viver seu luto de maneira digna, pois teriam seu dia de serviço descontado. A licença no dia de casamento também foi negada aos CTA’s. Ambos os direitos retirados por decretos. A lista não para: caso os pais com filhos pequenos ou com pais idosos tenham que acompanhá-los, não há direito ao atestado.
O quadro de funcionários da prefeitura é composto 65% por mulheres. Essas mesmas mulheres, que no Brasil possuem tripla jornada de trabalho e que são responsáveis, na maioria das vezes exclusivamente, pelos cuidados dos filhos. Sem ter a quem recorrer, perdem o dia de serviço e o tem descontado de seu salário.
Um dia, de um mês inteiro trabalhado não deveria fazer falta, mas o salário pago por 40 horas semanais de serviço é o um dos piores, se não for o pior, do Espírito Santo. Muitos funcionários necessitam de serviços extras para complemento de renda. Não há ticket alimentação. Existe um vale feira ofertado. O que de início pareceria uma ideia espetacular, na prática um desastre. O vale só deve ser utilizado na feira que acontece na ilha da luz. Há aglomeração de pessoas que esperam horas na fila (privilégio daqueles que conseguem ser liberados horas antes) e os preços são bem acima do convencional.
O salário mínimo, com seus devidos descontos, e se considerarmos o valor descontado, 6%, da passagem de ônibus, pede que se faça um verdadeiro malabarismo para se equilibrar as contas de casa, ainda mais se o servidor vive de aluguel.
Conversei com alguns servidores que relatam, acima de tudo, um esgotamento pela falta de férias
“A gente não tem direito a férias por que eles fazem contrato nosso de 6 em 6 meses. Encerra um, faz outro. Então a gente nunca vai ter direito a férias. Resumindo, a gente não tem direito de fazer uma viagem, marcar nada, né? E fora algumas regalias que uns têm e outros não têm, como a folga de aniversário. Não tem aqueles direitos iguais para todo mundo, a gente é um palhaço” Relata um servidor.
Outro relata sua indignação sobre o descaso e o salário defasado:
“Eu penso que Cachoeiro precisa analisar a remuneração dos técnicos da área do SUAS, principalmente porque se tornou linha de frente durante essa pandemia toda e não foi nem respaldado na imunização, demorou sair um decreto para essa linha de frente. Cachoeiro como quinta maior cidade do estado, com salário mais defasado do sul e de todo o Espírito Santo deveria olhar para isso” Reclama outro servidor público.
Nos relatos notamos a indignação sobre o descaso que eles sentem partindo do executivo e do legislativo da cidade. Os 19 vereadores não os procuram a fim de ouvir suas demandas, sejam de ocasião, sejam de oposição.
O que os funcionários reivindicam é humanidade e valorização profissional. Sem esses servidores, que compõe majoritariamente o quadro de funcionários, o município não funcionaria tão bem quanto funciona, basta agora um olhar, não de caridade, mas de respeito para com esses servidores.