Por Gabi Prado
De carona (ou de encontro) ao último texto publicado nesta coluna, refleti sobre uma particularidade da relação existente entre público e Realties Shows. Recordei que um professor muito querido da graduação se considerava entusiasta de BBB e almejava o dia em que um de seus orientandos chegasse com a proposta de destrinchar as entrelinhas deste que é um dos maiores programas televisivos da atualidade no Brasil.
Amante que sou dessa categoria, quase me vi abraçando o tema, quando desviei para o campo das redes sociais (que, inclusive, assumem um papel fundamental na solidificação do imaginário que sustenta o índice de audiência desse show de vida). De qualquer forma, o que pretendo trazer aqui hoje vai além de gostos e afeições por determinadas formas de entretenimento.
Existe uma movimentação consistente da massa espectadora no que diz respeito à procura por algo que alivie os temores do sujeito contemporânea tendo em vista que enfrentar crises sanitária, econômica e política, ao mesmo tempo, levou ao esgotamento psíquico-emocional de uma grande parcela da população do país. Essa busca tem nome e se encontra em voga nos assuntos que percorrem as redes sociais: “alienação de qualidade”.
Alienação de qualidade consiste na absorção de conteúdos midiáticos, do ramo do entretenimento, com vistas a redirecionar a energia que empregamos na problematização daquilo assola nossa sociedade para um programa de televisão que não nos carece do mesmo esforço para pensar. Eis a exaustão do pensamento crítico social. (O termo pode ser encontrado em páginas de fofoca do Instagram ou em postagens aleatórias do Twitter).
Curioso pensar que a nossa esperança está, justamente, em dos mecanismos que mantém a estrutura do sistema de pé. Seria interessante, portanto, manter uma população cansada a fim de que as engrenagens dessa máquina continuem funcionando? Comemora-se a volta de um outro Reality Show que coloca o ser humano à prova e o desafia física e emocionalmente… e a gente vibra nossa única esperança em meio ao caos.