Sementes do amanhã

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Por Tatiana Pirovani

 

Sabe, nunca quis ser mãe. Desde sempre. Brincava muito com minhas bonecas, mas eu nunca
era a mãe. Quando adolescente, ouvia das pessoas que era porque estava muito jovem.

Quando me tornei adulta, ouvia que era porque ainda não havia encontrado a pessoa certa. E
por aí vai…

Muitas pessoas confundem o fato de não querer ter filhos com detestar crianças. Não é isso.

Muito pelo contrário. Amo crianças!

Sabe o que detesto?

Detesto adultos que só falam gritando com as crianças. Adultos que fazem cara feia para crianças quando elas estão distantes dos pais. Adultos que intimidam crianças.

Detesto adultos que confundem correção e disciplina com rigidez/estupidez. Adultos que
ignoram o fato de que crianças estão aprendendo tudo a todo momento, e que nesse caminho
elas vão errar mil vezes.

Detesto adultos que depositam nas crianças responsabilidades incompatíveis com suas
condições físicas, etárias e cognitivas. Adultos que inscrevem os filhos em milhões de
afazeres, para ter mais tempo livre enquanto a criança se desdobra em dezenas de atividades
extra classe.

Detesto adultos que não se sentam ao lado do filho para conversar, assistir a um desenho
animado, saber dos seus interesses. Adultos que não conhecem seus filhos, não sabem do que
eles gostam, não se preocupam com o que assistem na TV ou na internet, que deixam a
criança exposta em ambientes “feitos para adultos”.

Aí te pergunto: do que adianta seguir o padrão “ter filhos” apenas por seguir? Será que
algumas pessoas que imputam aos filhos o papel de trazer-lhes a completude da vida, param
para pensar que suporte emocional, diálogo, limites, companheirismo também são
importantes? É. Pois é.

Vamos aos fatos: em maio deste ano constavam 6.091 denúncias de todo tipo de violência
contra crianças, registradas pelos gráficos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH). Somados aos registros já existentes, o mês foi finalizado com 35 mil
casos, que totalizaram 132,4 mil violações diferentes a crianças (físicas e psicológicas). 96%
desses casos foram em domicílio. Sim, em casa, por familiares próximos, “papai, mamãe,
titia”.

Apenas em 2020, os telefones da Ouvidoria Ministerial tocaram 3,5 milhões de vezes para
notificações de violência contra crianças. O Ministério ainda registra que, para cada notificação de violência, 20 casos não são notificados. Então, sim… as coisas estão bem piores
do que sabemos.

Os registros totais variam entre casos de agressão psicológica como depreciação, bloqueio dos
esforços de autoaceitação, alienação parental, ameaças, injúrias, humilhações, perseguições
ou qualquer conduta que expôs a criança a crime violento. Esses casos somam 34.325
notificações, superando os registros de agressões físicas. É, adultos podem detonar a mente de
crianças.

Pasmem ainda: os abusos podem levar a automutilações e tentativa de suicídio. Dos dados
disponíveis no site do Ministério, constam que 167 crianças entre 5 a 14 anos tentaram se
matar em 2018. Crianças de 5 a 14 anos! 5 a 14 anos.

Sabe, eu gostaria que muitas pessoas que “querem” ter filhos, amassem crianças como eu
amo. Que tivessem consciência de que são pequenos seres humanos, estão em
desenvolvimento, não deveriam existir para atender às expectativas dos adultos. As vezes,
detestar crianças pode ter mais a ver com quem quer do que com quem não quer ter filhos.
Cuidem dos seus pequenos.

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