Sobrevivente da seca

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on linkedin
Share on email

Nasci e cresci convivendo com a escassez de água. Tomar banho, diariamente, não era pra todo mundo, simplesmente por não existir em quantidade esse precioso líquido incolor, insípido e inodoro, como nos ensinaram na escola.

Anualmente, meu pai seguia o mesmo ritual: fazia uma broca (roçada) da caatinga de várias tarefas (um hectare = 3,3 tarefas) para o plantio do milho, feijão, fava, algodão (antes da praga do bicudo acabar com essa cultura na região). Para limpar melhor a área e facilitar o trabalho de plantio, tocava fogo na caatinga derrubada e esperava que a chuva viesse.

Na primeira neblina (chuva fina), lá ia ele com mais alguns companheiros aproveitar o molhado da terra para plantar os legumes e esperar que São José (padroeiro da cidade), com seu prestígio junto ao criador, desse continuidade aquele fenômeno (a chuva) tão esperado para nossa sobrevivência.

Se o inverno fosse bom, logo os riachos (temporários) estavam cheios e a meninada aproveitando para tomar banhos indescritíveis. A velha barragem enchia logo, pois também não tinha uma bacia tão grande. Era a certeza que haveria abastecimento de água na cidade por algum tempo, feito através do transporte de jumentos lotados de ancoretas.

Adulto, já como engenheiro agrônomo, mudei-me para a região sudeste (ES) e conheci (dada a minha experiência com o semiárido nordestino), pela primeira vez, o que era desperdício de água: rios e córregos cheios indo direto para o mar e com aproveitamento ínfimo na irrigação, pois a época das chuvas (outubro a abril) era coisa certa e suficiente para o crescimento das culturas temporárias e permanentes.

A água para os animais também não era problema, pois a maioria das propriedades tinha ou uma nascente exuberante ou um córrego com água abundante. O meu espanto com tanto “desperdício” levou alguns colegas a caçoarem de mim, quando indagava porque aquela água toda não era contida (em barragens).

O tempo passou, as nascentes diminuíram suas vazões ou secaram, pois o período das chuvas se modificou e poucos perceberam que era preciso respeitar a natureza. Hoje, há até programa governamental para construção de barragens e recuperação de nascentes.

Em função disso e devido à falta das chuvas, vejo novamente aquele cenário que acompanhei quando criança, só que agora na região Sudeste. Será castigo? Sendo assim, só resta pedir a São José que use do seu prestígio junto ao criador e deixe cair toda chuva que há.

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on linkedin
Share on email

Leia a revista Fomento

Leia a revista Fomento

Notícias Recentes

Calendário de pagamento do IPVA 2025 é definido

O Governo do Espírito Santo, por meio da Secretaria da Fazenda (Sefaz), divulgou as datas