Por Tatiana Pirovani
Há uns quatro anos atrás estava num restaurante, acompanhada de Jaqueline, quando entraram duas mulheres. Jaqueline logo adiantou que uma delas era considerada referência em estudos parasitológicos, o que eu achei o máximo, porém, me encantei pelo conjunto. Era uma mulher alta, com os cabelos brancos e curtos, que ocupou a mesa da frente, e imediatamente virou para trás nos perguntando o que estávamos bebendo, porque parecia bonito, e ela queria um igual.
Na hora não soube colocar em palavras qual foi o impacto que ela causou em mim, assim, apenas por ser, mas depois compreendi o que ela significava… ela era a personificação daquilo que eu sentia e pensava. E, assim como com ela, com o passar do tempo, fui cruzando com várias outras mulheres que vivem e encaram o envelhecimento de outro modo.
Quantas vezes iniciamos um caminho apenas por achar que aquilo corresponde à nossa idade, pois se deixarmos para depois estaremos velhas demais? Onde está escrito que idade parametriza alguma coisa? Eu errei dezenas de vezes simplesmente por estar fazendo coisas que tinha que fazer (e na verdade não tinha), afinal eu já era uma mulher de “x” anos. Era como se eu tivesse estabelecido prazos, antes de ser oficialmente considerada velha para isso ou aquilo. Até que: “Calma! Vamos fazer de outro jeito.”
Encarar o envelhecimento como ganho hoje em dia é considerado um movimento de longevidade, conhecido como “Ageless Lifestyle”. Não se trata apenas de viver muitos anos, mas de viver melhor em vários aspectos. Não significa ignorar a idade, viver como se fosse adolescente, querer se igualar aos mais jovens, muito pelo contrário. Significa compreender que o fator idade é um ponto extremamente positivo. Assunto pacificado.
Isso me trouxe um alívio tão grande, sabe!? Sou capaz de fazer tantas coisas hoje, as quais não fiz antes porque estava presa a crenças limitantes. Posso começar qualquer coisa do zero a qualquer momento, e me envolver a todo instante em algo novo; posso efetivamente lidar com as adversidades que surgem como algo que faz parte da vida. Posso viver em constante aprendizado e recomeçar tanto quanto eu achar que seja necessário. Tenho a plena convicção de que estarei potencialmente melhor a cada ano que passa, e zero preocupação em envelhecer. Não quero parecer mais jovem, não vejo vantagem nenhuma nisso. Não tenho pressa para nada.
Me recuso à algumas coisas, como por exemplo, me encaixar em padrões estéticos ou de comportamento. Hora pinto os cabelos, hora penso em deixá-los brancos. Gosto de malhar, porém não deixo de ir à praia porque o “projeto verão” falhou. Saio de shorts e camiseta, mas levo um casaquinho na bolsa. Iniciei mais uma especialização, já de olho na próxima.
Divido meu tempo entre estudar, trabalhar, tomar uns bons drinks, falar bobagens pelas redes sociais, ir a consultas para reposição hormonal e tratamento do joelho que não aguenta dois lances de escada, terapia em dia, dentista porque a gengiva está subindo. Antes da pandemia, meus pés estavam sempre com bolhas por causa da dança; minhas mãos tem calos do tempo que frequentava assiduamente a academia e meus dedos tem calos de tanto escrever.
Uso chinelo, tênis e me recuso a tirar o salto em fim de festa. Cuido da minha casa, saio à noite, entrego meu trabalho no prazo, depois de seis anos resolvi deixar a chefia que ocupava, alimento
passarinhos da rua – todo dia – rego minhas plantas, já fui nota 85 no prêmio Inoves, estou há
oito meses em um novo setor do trabalho.
Não dá. Não dá para colocar num pote rotulado e tentar delimitar a existência de alguém que
não se prende à prazos de existência. A vida não deveria ser compreendida como uma linha
do tempo, mas como uma rede de conexões e experiências. Relaxem. Deixem o tempo correr
macio.