Foi no ano de 1989 em Cachoeiro de Itapemirim (ES) que o fato se deu.
O secretário de Esporte, Cultura e Turismo, Clóvis de Barros, seria homenageado pelos artistas da terra, na Câmara Municipal. E eu, como sempre estive engajado no meio cultural, fui a essa celebração.
Chegando lá, entrei, cumprimentei a todos os conhecidos e fui abordado pela funcionária da Cultura, Ana Carolina, que logo me disse que eu falaria no parlatório – sendo recebida com uma negativa.
Não. Eu não iria falar e ponto. Sou e sempre fui um péssimo orador e ela, lógico, sem titubear, disse-me que eu já estava escalado. Pronto. O corpo começou a tremer, a cabeça a rodar e o suor a descer.
Transe total.
Começou com todos falando e logo viria minha vez. Bom, subi e depois de alguns segundos em pensamentos atordoados comecei:
Tô nervoso
tô nervoso
Tô muito nervoso
muito nervoso
Tô nervoso
Foi assim que comecei meu discurso dos festejos.
– Sr. Secretário, peço-lhe que, na sua posição de secretário, acabe com esse êxodo cultural que assola a nossa cidade. Que o senhor acabe com essa evasão de artistas que, não tendo campo de trabalho aqui, procure outros centros como Rio, São Paulo ou, até mesmo, Minas Gerais para que seu trabalho seja reconhecido e, obviamente, valorizado.
– Peço-lhe, também, que invista em nossa cidade pra que os nossos habitantes tenham mais opções na vida noturna, com música ao vivo nos bares, restaurantes… com os artistas da terra, que, modéstia à parte, temos de sobra. E também não esquecer dos festivais de música que muito elevou o nome de nossa cidade e de nossos compositores para o campo nacional e até no exterior. Grandes músicos fizeram parte desses festivais.
Quando eu citei sobre os festivais, a magnifica intérprete Elisabeth Martins, irmã do grande escritor e músico Estelemar Martins, me olhou sorrindo e fez que ‘sim’, como se tivesse dizendo: nossa família já participou de grandes festivais.
– Termino esse meu discurso levando uma esperança de que o senhor fará com que nossa cidade se orgulhe de tê-lo como secretário.
Obrigado.
Depois desta fala, com muita emoção, ele simplesmente balançou a cabeça afirmativamente e eu sai sabendo que tinha dado conta do recado. Esta foi uma de tantas histórias culturais que participei.