Diante da declaração da chefe do programa de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria van Kerkhove, de que a transmissão de Covid-19 por pessoas assintomáticas ‘parece rara’, o biólogo e doutor em microbiologia Atila Iamarino (foto) fez coro com ela sobre não considerar o mesmo aos pré-sintomáticos, que são pacientes já contaminados, sem sintomas, mas que virão a apresentar.
“Foi uma colocação muito infeliz e tirada de contexto. A recomendação deles [da OMS] de cuidado das pessoas e distanciamento social continua sendo a mesma. Nós não sabemos quem vai manifestar os sintomas, quando as pessoas vão transmitir os vírus, por isso todo mundo tem que continuar usando máscara e mantendo o isolamento social, se possível”, disse Iamarino em entrevista à Globonews nesta terça-feira (09).
“O que ficou de fora dessa declaração que é importante é que existem pessoas que não têm sintomas e depois os manifestam, que são as pessoas pré-sintomáticas. Elas são a maior fonte de transmissão da doença. Grande parte dos casos de Covid-19 foram transmitidos nesse período em que pessoas que ainda vão ter sintomas já tinham o vírus no nariz, no corpo e já transmitiam ele. Então, a transmissão principal, medida no mundo inteiro, acontece 2 a 3 dias pré-sintomas”, observou.
“Esse é o momento crucial [pré-sintomático] da doença, por isso que nós não conseguimos parar a Covid-19. A, Sars, doença anterior de Coronavírus que já tivemos 2003, foi parada porque as pessoas tinham sintomas quase sempre, então era só retirar alguém com febre da população geral que você impedia a transmissão. Com a Covid-19, isso não é possível porque a pessoa já está transmitindo o vírus antes dela manifestar essa febre”, garante o biólogo.
Sobre o contexto da fala, ele deixou claro ainda que se tratava da melhor forma de como se realizar o rastreio de possíveis infectados. Na hora de buscá-los, estudos indicam que é melhor começar pelos que apresentam os sintomas.
“Quando a OMS falou sobre isso em entrevista eles estavam falando sobre o rastreio de contatos, que é uma coisa que o Brasil tem feito muito pouco. [O rastreio] é você ter uma equipe de pessoas dedicadas para, quando alguém aparece com os sintomas, você conseguir rastrear o contato dessas pessoas, com quem é a família dela, qual é a região em que ela vive, para ver quem mais pode ter Covid-19 nesse local”.