Por: Gabriela Fonseca
“Queria um remédio para melhorar meu foco e minha criatividade. Também lido com insônia e uma infelicidade crônica.”
Essa não é uma frase difícil de ouvir nas clínicas de profissionais de saúde mental. Embora o tema não seja novo, temos observado um aumento no uso de substâncias que prometem potencializar a cognição e o bem-estar na psiquiatria, conhecidas como “smart drugs” ou drogas da felicidade. Quem não deseja ser mais inteligente, feliz, focado e menos ansioso?
A classe de benzodiazepínicos, antidepressivos e anfetaminas tem sido utilizada de maneira superficial, muitas vezes sem a devida prescrição profissional. Não é raro encontrar essas drogas sendo vendidas online, inclusive de forma clandestina.
O que se ouve de colegas e nas clínicas é um discurso que sugere que devemos ser felizes o tempo todo. As redes sociais reforçam essa busca compulsória pela felicidade constante. Como profissional de saúde, convido à reflexão: a angústia sempre fez parte da vida.
A ansiedade e a tristeza são emoções que nos acompanham e, muitas vezes, nos indicam um sentido de vida significativo. Ignorar essas emoções nos torna entorpecidos e alienados de nós mesmos. Estamos, coletivamente, cultivando a ilusão de que a angústia, a tristeza e a ansiedade são necessariamente doenças?
Como profissional de saúde, asseguro que nossas emoções atuam como bússolas internas. Ignorar a angústia pode ser prejudicial. Como diria Lacan: “A angústia não mente”. Isso significa que há um sentido no sofrimento que nos convida a refletir: “O que estou fazendo comigo?”, “O que na vida está tão insuportável assim?”, “Qual é a minha responsabilidade na minha tristeza/angústia/ansiedade?”
Atualmente, a psiquiatria muitas vezes parece ser “cosmética”, com diagnósticos que seguem uma espécie de moda, diagnosticando irresponsavelmente e tornando adultos saudáveis reféns da indústria farmacêutica sob a promessa de uma vida melhor — que, em muitas ocasiões, vem acompanhada de efeitos colaterais indesejados.
Deixo aqui o convite para refletirmos sobre a que modo de existência estamos reféns. Não deveríamos desenvolver critérios e cuidados mais rigorosos para com nossos pacientes? Não há algo profundamente errado quando nosso modo de viver no Brasil nos torna estatisticamente o país mais ansioso do mundo?
Antes de concluir um diagnóstico, é fundamental observar como estamos vivendo. Dopar a população nunca será, em minha opinião, uma solução que promova um desenvolvimento saudável a longo prazo, tanto em nível coletivo quanto social.
*Gabriela Fonseca é formada pela PUC Minas, Expert em Saúde Mental, atua na clínica de Psicoterapia. Auxilia pessoas no desenvolvimento pessoal desde 2019 pela abordagem Humanista de Rogers.