Raul Sampaio

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Foi no ano de 1917 no Rio de Janeiro que o fato se deu! A juventude brotava no adolescente de 17 anos e o dever cívico estava próximo. O exército o chamava e não tinha outro jeito.

Arrumou suas malas tipo baú, despediu-se dos pais, parentes, amigos e rumou para a estação ferroviária, o único meio de transporte vigente na época. Na mala, roupas básicas, alguma coisa pra comer durante a longa viagem e um grande desafio para o que lhe esperava: o Exército Brasileiro.

Foi assim que tudo começou. Esse adolescente-homem que tinha na bagagem uma vantagem de ser um ótimo musico, sabia que não seria fácil sua vida na capital do país, acontecendo greves de operários da cidade e da área rural, mas isso não o abalou.

Esse adolescente é o maestro Raul Gonçalves Sampaio. Chegando no estado da Guanabara, ele foi direto para o batalhão, onde encontrou com muitos mil praças (os que ainda não eram soldado) enfileirados para a seleção.

Era assim que funcionava. Lá no início da fila um oficial perguntava:

– o que você faz?

– sou agricultor

– Vai pra lá

– O que você faz?

– Sou músico

– vai pra lá

Apontava o oficial pra onde os praças deveriam ir.

Papai, chegando onde lhe havia indicado, esperou a sua vez. Lá na frente, o instrutor também perguntava:

– Que instrumento você toca?

– Saxofone .

– Dá um saxofone pra ele

– fuuuooomm fuuuooommm

– Vai prá lá. E você?

– Piston

– Dá um piston pra ele

– frrriiii riri frrrraaaa rara

– some daqui. E você?

– Clarineta

– dá uma clarineta pra ele!

E papai começou a tocar de uma forma tão lírica que encheu o lugar de emoção e todos, inclusive os oficiais, pararam para ver o que estava acontecendo e começaram a se deleitar de tanta sonoridade canora que havia tomado o ambiente.

Bem, não precisa dizer que Raul Sampaio foi muito bem recebido pelos oficiais e, logo que entrou, começou a tocar na banda do exército. Já fardado e com a insígnia de músico no ombro, fazia questão de passar em frente dos caminhões que chegavam carregados de fardos de carne seca e, quando ele era abordado, tocava com os dedos no ombro, na insígnia, e papai dizia: sou músico.

Enquanto isso, todos os praças fugiam para que não fossem chamados pra descarregar o caminhão. O instrumentista não pegava em armas, não fazia nenhum serviço que não fosse tocar seu instrumento, estuar música.

O cinema na época era mudo e papai tocava a sua clarineta nas seções, não utilizando de nenhuma luz natural e nem artificial; e o público era de soldados até o alto escalão. A inveja mata e, num desses dias, a clarineta de papai foi sequestrada por invejosos e, na hora da seção, o instrumento começou a tocar com outro músico, mas com uma diferença: tinha uma luzinha de vela que servia pro músico ler a partitura.

O comandante que estava assistindo à película pediu para que parasse a transmissão e perguntou onde estava o músico que não utiliza do artifício da vela para a execução de seu instrumento e disseram para o comandante que a clarineta havia sumido.

– quero o instrumento em 5 minutos, senão coloco todos pra quebrar pedras. (disse o oficial, irritado)

1 minuto após a ordem ter sido dada o instrumento apareceu, a luz da vela apagada e o filme continuou com o som maravilhoso da clarineta do jovem maestro Raul Gonçalves Sampaio, a novamente encher o salão com as melodias que tanto encantava aos frequentadores do cinema.

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